Marcas chinesas buscam segunda chance no Brasil

Depois de um início promissor, montadoras tiveram contratempos com problemas de pós-venda e restrição à importação. Agora investem em novos produtos e fábrica no país

JAC T6 | Imagem: Divulgação

Geralmente, num relacionamento, quando um dos parceiros comete um erro grave, é difícil perdoar e seguir em frente. Mas há quem consiga uma segunda chance. É o que buscam as marcas chinesas a partir deste mês no Brasil.

Longe da expectativa de invasão chinesa que se imaginava alguns atrás, as montadoras da China hoje fazem papel de figurante no mercado, sem produtos desejados e pior, sem o famoso custo-benefício imbatível – culpa em parte dos impostos de importação bem mais altos que pagam.

O possível reatamente com o cliente brasileiro começará a ser testado neste mês. É quando as duas maiores fabricantes chinesas no país, a JAC e a Chery, lançarão modelos que têm mais chance de vingar nas lojas.

Chinês nacional

A Chery é a marca que está na situação menos desconfortável hoje. Embora tenha tido um início trôpego no Brasil, a montadora logo sacou um projeto de fábrica nacional para fugir das restrições impostas aos importadores.A unidade de Jacareí veio literalmente de navio da China – até a estrutura metálica dos galpões foi feita no país de origem. Depois de atrasar e só ser aberta oficialmente em agosto, a fábrica começou a produzir os primeiros exemplares nacionais no mês passado.

O primeiro produto a sair da linha de montagem é o novo Celer, compacto que é vendido no Brasil na versão original vinda da China e que não agradou. A aposta agora é que a reestilização e a melhoria do interior, além do fato de ser um produto local mude a percepção de qualidade do automóvel, sem dúvida, o calcanhar de aquiles dos carros chineses.

O novo Celer chega no dia 14 nas versões hatch e sedã, mas a Chery tem uma expectativa modesta de produção, de apenas 35 mil unidades este ano – aí incluídos os outros modelos em nacionalização como o novo QQ e o Tiggo 5.

Jipinhos chineses

Em situação mais complicada, a JAC mira no filão mais promissor do mercado, o de SUVs. Enquanto sua prometida fábrica baiana não sai do papel – a empresa aguarda financiamento para levantá-la após concluir a terraplanagem do terreno em Camaçari, Bahia -, a JAC lança também neste mês o T6, seu primeiro utilitário esportivo.

Com porte semelhante ao ix35, da Hyundai, o T6 custará R$ 71 mil, preço mais em linha com os modelos compactos como o Renegade e o HR-V. O ponto fora da curva do modelo é o câmbio manual, pouco aceito pelos clientes, mas a marca diz que uma transmissão CVT está a caminho.

No segundo semestre será a vez do T5, irmão menor do T6 e que foi mostrado no Salão do Automóvel. Com os dois, a JAC pretende se aproximar dos volumes de vendas que teve na sua estréia em 2011, quando causou furor ao abrir 50 lojas num único dia e contratou o apresentador Fausto Silva como garoto-propaganda.

Lifan perdoada

A perspectiva para Chery e JAC é boa, apesar dos problemas iniciais. O cliente brasileiro costuma ‘perdoar’ marcas que se recuperam de erros. Um exemplo vem da própria China, a Lifan. A desconhecida marca estreou no Brasil pelas mãos do empresário Eduardo Effa que lançou o sedã 620 e o inglório hatch 320, uma cópia pouco inspirada do Mini Cooper. Depois de um início animado, as vendas minguaram e a matriz da Lifan retirou a representação da Effa.

Hoje, a Lifan vende tanto quanto JAC e Chery e tem uma estratégia mais clara de atuação no Brasil, em que pese a falta de qualidade de alguns produtos ainda.

Certamente, as marcas chinesas vieram para ficar, mas longe de pensar que elas dominarão o mercado. Ao menos não tão cedo.