Face marca nova fase da Chery no Brasil

Fabricante chinesa lança seu modelo mais promissor comercialmente, com expectativa de vender 25.000 carros em 2011

Chery Face | Imagem: Chery

Se é verdade que os chineses seguirão os passos de japoneses e coreanos e se tornarão referência em qualidade e estilo, é razoável dizer que a Chery será a líder desse fenômeno. Depois de Tiggo, em 2009, e Cielo, em maio, a marca lança por aqui o Face, hatch compacto que “será responsável por consolidar a Chery no Brasil”, como define Luis Curi, CEO da montadora. Segundo suas estimativas, serão 6.000 unidades da novidade até o final do ano, e 25.000 novos Chery nas ruas em 2011 – montante que, se confirmado, trará a empresa da 15ª colocação no ranking nacional, para a 13ª. 

Recheio incomum

A primeira e óbvia credencial do novo compacto é o preço: por R$ 31.900, o chinês entrega a quem apostar nele ar condicionado, direção hidráulica, CD player com MP3, alarme, rodas de liga leve, sensor de estacionamento, travas, vidros e retrovisores elétricos, ajuste de altura do volante, airbag duplo, freios ABS com EBD (distribuição eletrônica de frenagem), entre outros itens já habituais nessa categoria, como para-choques, capa de retrovisores e maçanetas na cor do carro. Detalhe: o Chery chega em configuração única, ou seja, sem opcionais – todos os itens vêm de série.

A Chery entende que Renault Sandero e Volkswagen Fox são os principais rivais do Face. Talvez seja pretensioso demais mirar em modelos maiores, posicionados em categoria superior. Apontar para carros do seu tamanho e esnobá-los com uma lista de equipamentos bem mais extensa nos parece mais coerente. Seja como for, equipar os rivais com o que o Face entrega de série seria, se não inviável, muito mais caro. 

Pós-venda da China

Não bastasse o preço extremamente competitivo, o Face ainda oferece garantia de três anos e inaugura dentro da Chery a estratégia de revisões com preços fixos – a primeira, aos 10.000 km, custa R$ 149; na segunda, aos 20.000, o cliente gastará R$ 249; e aos 30.000 km o preço volta ao R$ 149. Segundo a Chery, são valores de 10% a 15% mais baratos.

A nova política de preços definidos para as revisões é amparada por um, aparentemente, bom acervo de peças. José Alfredo Natale, diretor de Pós-Venda, nos conta que dois navios por mês são enviados da China para o Brasil com peças de reposição – mais precisamente um kit com 1.300 itens para cada carro que desembarca aqui. Se caso surgir a necessidade por uma parte do carro não importada, Natale garante que a peça (desde que pequena) chega aqui em apenas cinco dias.

Dirigibilidade mediana e bom espaço

Se por fora o Chery Face lhe parece estreito, não é impressão: de fato, o espaço lateral é ruim. Freqüentemente, o motorista esbarra seu braço no do passageiro nas trocas de marcha ou para regular seu encosto. Atrás, no entanto, há bom espaço para as pernas de pessoas de estatura mediana, mesmo que os ocupantes da frente removam o banco até o final do trilho. Como nos irmãos Tiggo e Cielo, o Face também traz algumas rebarbas mais aparentes, peças com encaixe um tanto desalinhado e materiais nem sempre de boa qualidade. Mas no geral, o aspecto é bom, até simpático. 

Há até certa criatividade, como a alavanca do freio de mão achatada e o painel, que além de bem iluminado traz consumo instantâneo de combustível. Chama a atenção também o acabamento “prateado” do console central. Já o destaque negativo vai para o revestimento dos bancos, que parecem estar envolvidos em um tecido maior do que o próprio banco. O resultado é “sobra” do tecido. A densidade também não ajuda: ao apertar os da frente, logo sentimos a estrutura da peça. E para completar, as costuras parecem ter sido feitas por alguém com sérios problemas de visão, tamanho é o desalinhamento.

O motor 1.3 16V de 84 cv, movido apenas a gasolina, tem desempenho não mais do que adequado, se aproximando da performance de um bloco de 1 litro. O câmbio de engates precisos agrada. Incomodou, no entanto, seu excessivo ruído metálico.

Separando o joio do trigo

A Chery não é a única representante da invasão chinesa que o mercado nacional tem assistido nos últimos tempos. Mas talvez seja uma das únicas a sobreviver daqui a alguns anos. O CEO Luis Curi acredita que a separação do joio do trigo deve ser feita agora, antes que o cliente sofra com um pós-venda ruim (ou até mesmo inexistente) quando chegar o momento das revisões ou no caso de problemas mais crônicos. “Devemos ter certa preocupação com algumas das muitas marcas que tentam entrar no Brasil. O governo tem ajudado, tornando mais rigorosa a homologação e evitando a entrada de algumas montadoras aventureiras”, explica.

Curi hoje tem motivos para não querer a entrada de muitas chinesas que tentam vender no Brasil. A Chery anunciará até o fim do ano o local da sua fábrica – provavelmente no interior de São Paulo. Dessa planta, que receberá entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão em investimentos, sairão modelos com índice de nacionalização acima de 50%, segundo o executivo.

O Face ainda está longe do padrão de acabamento, diversão ao volante e conforto dos japoneses e coreanos, seus maiores exemplos. Ficam atrás também dos carros brasileiros que, raras exceções, também não são referência. Mas a melhora é visível e, talvez ainda mais importante, a cada lançamento da marca se confirma seu comprometimento com o mercado nacional. Talvez o próximo passo para encostar nos primos asiáticos seja, de fato, deixar de ser chinês.