Não escondemos recalls, diz Volvo

Marca sueca garante que segurança ainda é seu mote e faz planos de vender 800 mil carros em 2020. Brasil, no entanto, terá participação modesta

Volvo V40 R-Design | Imagem: Volvo Cars

A fabricante de automóveis Volvo passa por uma fase inédita em sua história. Pela primeira vez, a marca sueca vive um período de ‘independência’ em sua gestão, agora que tem como maior acionista a montadora chinesa Geely: “quando foi fundada, a Volvo Cars era parte da Volvo fabricante de caminhões, depois passou as mãos da Ford”, explica Luis Rezende, novo presidente da marca no Brasil, que assumiu o cargo no início do ano. “Na nova sociedade, a Volvo está mais solta e focada no seu objetivo de vender mais carro ‘premium’ no mundo".

O resultado é que a Volvo pela primeira vez em muitos anos terá produtos desenvolvidos totalmente por ela. O primeiro passo dessa mudança é a linha de motores ‘Drive-E’, que chega ao Brasil nesta semana equipando os modelos família 60. Ainda em 2014, o novo XC90, primeiro SUV da marca, será apresentado em Paris, usando uma plataforma própria e avançada – o modelo chegará aqui no ano que vem.

As mudanças, no entanto, coincidem com uma série de situações embaraçosas para a empresa, conhecida pelo mote de segurança acima de tudo. Falhas em testes de sistemas de direção autônoma e seguidos recalls colocaram a marca em evidência nos últimos anos. Rezende, no entanto, vê isso como um fator positivo: “não temos receio de promover um recall, mesmo que ele aconteça ao mesmo tempo de um lançamento”, justifica, ao lembrar do caso do modelo V40 CrossCountry, lançado meses atrás e que foi chamado dias depois para seu primeiro ajuste de segurança.

Avaliação: Aventura é coisa séria no Volvo V40 Cross Country

De fato, a marca tem promovido chamados de segurança num ritmo muito superior às suas concorrentes. Só o SUV XC60, modelo mais vendido da Volvo no Brasil, teve 12 recalls nos últimos cinco anos, uma média bem superior a de qualquer outro carro. “A ordem na Volvo é não ter risco para o cliente, então não há economia nesse sentido”, diz Resende. “Desde 2008, o XC60 não teve um único acidente fatal, seja com vítimas no carro ou pedestres, na Suécia. Que marca pode dizer o mesmo?”, conclui.

Carro autônomo em 2020

A confiança da marca é tanta que colocou como meta chegar a 2020 com todos os modelos capazes de oferecer a opção de direção autônoma, tecnologia que permitirá que os próprios veículos façam todo o trabalho do motorista. “Em 2017, 100 carros da Volvo serão usados por moradores de Gotemburgo, na Suécia, para testar o conceito”, diz o presidente da marca.

Rezende se empolga com assunto ao explicar que até as vagas de estacionamento mudarão no futuro: “se o próprio carro irá sozinho até a garagem não será necessário espaço entre as vagas para abrir as portas nem altura para um adulto se aproximar. Imagine quantos carros a mais poderemos estacionar no mesmo espaço de hoje”.

Veja mais: Volvo testará carros autônomos nas ruas em 2017

Segundo ele nem mesmo a ameaça das motos circulando nos corredores das avenidas no Brasil assustou a engenharia da empresa, que esteve aqui este ano: “há problemas piores, na visão deles, como na Rússia e, sobretudo na Índia, onde praticamente não há regras no trânsito”, observa.

Planos limitados no Brasil

O humor de Luis Rezende só muda ao falar sobre o mercado brasileiro. Com suas rivais investindo em fábricas no Brasil para poder pagar menos impostos, a Volvo ainda reluta em fazer o mesmo. “Vamos vender 3 mil carros, mas para os clientes mais satisfeitos do Brasil”, diz ao justificar o limite imposto pelo programa Inovar-Auto.

Para ele, o excesso de mudanças na legislação e complexidade das regras têm atrapalhado qualquer plano de investimento no Brasil. “Já tentei explicar várias vezes para meus superiores como funciona o mercado aqui, mas é praticamente impossível”, lamenta. “Estamos chegando a julho e não sabemos dizer se teremos a volta do IPI pleno ou se o governo manterá a alíquota atual. E é assim sempre”, conclui.

Por isso, os planos de uma fábrica em território brasileiro passam longe da Volvo, por enquanto. A marca está crescendo mundo afora, sobretudo na China, onde abrirá sua segunda fábrica este ano. O mercado chinês, aliás, já é o primeiro para os suecos, seguido do norte-americano. “começamos nossa reação um pouco tarde, é verdade, mas queremos chegar a 2020 com 800 mil carros vendidos por ano, que é quase o dobro de hoje”. Com quantos recalls forem necessários.