"O consumidor brasileiro está mais exigente"

Denise Johnson, a nova presidente da GM, falou ao AUTOO. Para ela, o setor automobilístico passará por um aumento de competitividade sem precedentes

Denise Johnson, presidente da GM do Brasil | Imagem: General Motors

Com R$ 5 bilhões em investimentos anunciados para os próximos anos e a experiência de ter passado por vários setores da montadora, Denise Johnson, a nova presidente da GM do Brasil, parece ser a pessoa certa no lugar certo. Engenheira, a norte-americana tem uma missão clara em nosso país, renovar a desgastada linha de produtos da Chevrolet. AUTOO conversou com ela durante o lançamento da S10 Rodeio, no Rio Grande do Sul.

AUTOO - A década de 90 foi um período sem igual para a GM brasileira, com o lançamento de vários modelos novos que viraram referência no mercado como o Corsa, o Vectra, Astra e a S10.  Mas na década passada, a empresa perdeu fôlego e trouxe poucas novidades. Como será a próxima década da montadora?

Denise Johnson - Você verá que, entre dois e três anos, teremos renovado nossa linha de produtos no Brasil com modelos mais avançados e completos. Isso não significa que deixaremos de vender alguns veículos atuais porque eles continuam agradando nossos clientes e são eles que determinam quando um produto deve sair de linha. É possível que algumas novidades convivam com as gerações atuais, por exemplo.

Entre esses veículos está a picape S10? Protótipos da nova geração e desenhos de patentes já apareceram na região, revelando que a sucessora da picape está a caminho.

Estamos desenvolvendo uma nova picape média global em conjunto com outras filiais, mas é cedo para dizer se ela substituirá a atual S10 ou se ambas conviverão no mercado por algum tempo.

Muitos clientes da GM se queixam que a montadora deixou de produzir no Brasil os produtos desenvolvidos na Europa pela Opel. Para eles, a empresa perdeu em qualidade nesse sentido. Voltaremos a ver algum modelo da marca europeia por aqui?

Antigamente, havia uma estratégia diferente em relação ao desenvolvimento de produtos. Os Estados Unidos, por exemplo, criavam veículos para si enquanto a Europa fazia o mesmo do outro lado do Atlântico. Agora, a GM busca uma visão mais global e para isso dividimos as tarefas entre os centros de desenvolvimento mundiais. Nos EUA centramos os veículos maiores, na Austrália, os com tração traseira, na Coreia e no Brasil, os compactos, e a Europa, motores e componentes mais avançados. Mas nada impede que essa tecnologia seja usada em outros mercados.

O Brasil vive uma fase contraditória. Já flerta com o 4º lugar entre os maiores do mundo, mas tem uma carga tributária absurda, cobra muito pelos seus veículos, não estimula a exportação e não fabrica carros mais sofisticados. Além disso, recebemos cada vez mais importados que, mesmo com uma alíquota astronômica de 35% ainda chegam aqui por preços competitivos. Como a GM fará para superá-los?

Não concordo com sua afirmação. Podem produzir modelos avançados aqui e é o que estamos buscando. Estamos investindo um valor imenso no país para renovarmos nossa linha de produtos e logo teremos novidades. Quanto aos importados, alguns países exportadores vivem de subsídios de governos e por isso praticam preços irreais.

A senhora acaba de chegar ao Brasil. Como vê o fato de nossos carros custarem muitas vezes o dobro do preço dos modelos americanos semelhantes? A impressão que temos é que a Anfavea está satisfeita porque as montadoras estão ganhando dinheiro e o governo também, por arrecadar mais.

Não tenho uma resposta definitiva para essa pergunta ainda, mas posso dizer que, apesar dos impostos altos, estamos vivendo uma fase cada vez mais competitiva no mercado brasileiro. Mais marcas chegam ao país e mais marcas estão investindo e não há mágica: alguns vão ganhar essa briga, outros perderão, mas é certo que o consumidor será o mais vitorioso, com produtos melhores e mais baratos. Esse fenômeno já está ocorrendo, basta ver que o preço relativo dos carros este ano caiu, apesar do fim do IPI e da inflação que, embora pequena, afeta os custos. Vai levar tempo até termos o mesmo poder de compra de outros mercados mais desenvolvidos, mas o consumidor está a cada dia mais exigente e isso é ótimo.