Veja o sobe e desce das marcas de automóveis no primeiro semestre

Mercado experimentou uma variação incomum, com montadoras avançando fortemente enquanto outras naufragam
Renault Kwid 2020

Renault Kwid 2020 | Imagem: Divulgação

O mercado de automóveis no Brasil é conhecido pela mesmice. Com raras exceções, as marcas costumam se mover como placas tectônicas, ou seja, raramente. Mas 2019 teve um primeiro semestre atípico em que as posições experimentaram um grande rodízio.

Se entre as três marcas mais vendidas prevaleceu um certo equilíbrio o mesmo não se pode dizer do resto do pelotão. Houve saltos enormes como o da CAOA Chery, que saiu de 21º lugar para o 14º lugar, e da Jaguar, agora a 23ª marca mais vendida e que saiu de um distante 28º posto.

Na outra ponta, duas marcas chinesas estão naufragando, a JAC e a Lifan, que encolheram 57% e 86%, respectivamente. Isso sobre um volume que em 2018 já não era grande. Entre as grandes montadoras, destaque para a Renault, agora a 4ª marca mais vendida do país, com boa margem para a Ford.

Crescimento apoiado nas vendas diretas

O mercado brasileiro como um todo cresceu cerca de 10% no primeiro semestre, mas chama a atenção que as quatro primeiras avançaram acima disso, assim como a Jeep. E a razão é simples: essas montadoras abusaram das vendas diretas.

Para se ter uma ideia, a Fiat é a líder do atacado, seguida de perto pela GM. Volkswagen, que precisou um pouco menos desse tipo de cliente, e Renault. A Jeep, 9º marca mais vendida no mercado geral, é a 6º no atacado, explicado pelo súbito aumento nas vendas do Renegade, que lidera o segmento de SUVs compactos em 2019.

Ou seja, trata-se um volume “tóxico”, que infla números e traz pouca rentabilidade para essas empresas.

Queda livre

Já a Ford, que também faz uso do expediente das vendas no atacado, 2019 tem sido um ano triste. A marca americana vive uma crise de identidade mundial e que está sendo mais profunda no Brasil. Seu plano One Ford, lançado na década passada e que previa uma marca global, com carros parecidos em vários mercados, naufragou.

Basta observar o que restou do portfólio no Brasil, resumido ao Ka, ao EcoSport e a Ranger. O compacto, em que pese ser um dos mais emplacados do país, é um produto de baixa rentabilidade. Já o SUV e a picape são figurantes em seus segmentos. Em compensação, produtos globais como o Fiesta, Focus e Fusion perderam o sentido.

No desespero, a marca fechou uma fábrica tradicional no ABC Paulista e ensaia importar o Territory, um SUV chinês de concepção um tanto datada. Não é à toa que as vendas da Ford caíram 3% em 2019, algo raro em um ano de crescimento, mesmo que modesto. Hoje a marca se segura no 5º lugar, porém, não será absurdo se terminar o ano atrás de Toyota ou Hyundai, que estão logo atrás dela.

C4 Cactus, o salvador

Por falar em montadoras em apuros, os franceses da PSA parecem, enfim, ter reagido aos anos de queda, mas o quadro segue grave. Se não fosse pelo lançamento do C4 Cactus, Citroën e Peugeot teriam despencado no ranking. A Peugeot, inclusive, caiu duas posições e a 13ª com quase 10% de emplacamentos a menos. Já a Citroën foi salva pelo crossover, que respondeu por um terço de tudo que ela vendeu em 2019. O impacto do modelo foi tão grande que a marca cresceu 44% e assumiu o 11º lugar.

Asiáticas no meio termo

Como não são adeptas de rifarem seus carros para frotistas e gozam de uma boa imagem entre os consumidores, elas costumar refletir melhor a realidade do mercado. Nesse sentido, a Toyota foi o destaque ao crescer 13%, certamente um desempenho calçado em uma demanda natural. Já a Honda, Nissan e Mitsubishi não tiveram motivos para comemorar o ano ainda – todas perderam espaço.

A Hyundai, por sua vez, vive um momento de entressafra, com a expectativa pelo lançamento do HB20 2020. A marca tem crescido pouco, sobretudo após o Creta perder o fôlego.
CAOA Chery avança, JAC e Lifan encolhem

Entre as 20 marcas mais vendidas, a CAOA Chery foi a que mais cresceu. É claro que a montadora, formada com a união da chinesa Chery com o grupo brasileiro CAOA, partiu de uma base mais modesta em 2018, mas graças ao lançamento de vários modelos como o sedan Arrizo 5 e os SUVs Tiggo7 e Tiggo5X, sua presença já incomoda rivais mais antigos como a Peugeot.

Situação oposta vivem as outras chinesas. A JAC, que chegou a ser a marca do país mais vendida no Brasil, amarga um longo período de ostracismo. Com sua representante no país em recuperação judicial, a JAC sobrevive com poucas vendas dos modelos T40 e T50 basicamente. Os repetidos anúncios de fábrica no Brasil, por outro lado, continuam apenas na retórica. Estranha-se sobretudo o desinteresse da matriz em investir em nosso mercado.

Montadora de porte menor que suas irmãs chinesas, a Lifan praticamente desapareceu do mercado. A empresa emplacou somente 185 carros em 2019, contra 1.350 no primeiro semestre de 2018.

A maldição da “fábrica” no Brasil

O mercado de luxo vive uma realidade alternativa. Com o dólar ainda muito elevado, as vendas não decolaram mesmo sem a alíquota extra do finado programa Inovar Auto. E quem decidiu instalar uma “fábrica de Lego” no Brasil como as alemãs e a Land Rover, amarga dissabores.

Se Mercedes-Benz e BMW ainda estão com a cabeça fora d´água, Audi e Land Rover afundaram. O braço premium do grupo VW caiu quase 6% enquanto a marca britânica de utilitários esportivos despencou 29%.

Quem não caiu no conto do vigário do governo Dilma e preferiu vender pouco a fingir que fabrica um modelo de luxo no Brasil agora tem se dado bem. A própria Jaguar, do mesmo grupo da Land Rover, cresce a olhos vistos: foram 60% este ano graças aos seus SUVs.

Mas é a Volvo que mais impressiona. A marca sueca é a 19ª no ranking, à frente da Land Rover e muito próxima da Audi. Seus emplacamentos têm crescido constantemente – nos primeiros seis meses ela ampliou as vendas em 33%. E pensar que ela chegou a considerar montar uma fábrica por aqui.

E a Kia?

Parte do grupo Hyundai, a Kia segue sua sina de coadjuvante. Depois de ensaiar uma presença maior no país no começo da década, a marca sul-coreana nunca mais foi a mesma. O que causa espanto é que ela goza de um bom prestígio em relação aos seus clientes e tem uma linha de produtos moderna e atraente. Mas, segundo repete com insistência seu representante no Brasil, não consegue competir em melhores condições por conta do dólar elevado. Talvez esteja faltando à marca pensar grande e diferente em vez de se lamentar.

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