Cerato: cara de Civic, mas alma coreana

Novo sedã da Kia faz quase o mesmo que o Honda custando muito menos

Kia Cerato | Imagem: Kia

O Soul já havia mostrado isso, mas, depois de conhecer o novo Cerato, sedã médio da Kia apresentado nesta semana, chegamos à conclusão que os coreanos já fazem parte da 1ª divisão das marcas mundiais.

O modelo supera qualquer expectativa que se tenha de um sedã: é atraente, bem construído e equipado, prazeroso de dirigir e, melhor ainda, barato se comparado aos concorrentes. Entre a versão básica e a top, preços de R$ 49 900 a R$ 57 900 – menos que o mais barato City, o pequeno sedã da Honda que ela cobra como se fosse médio.

Por falar em Honda, o Cerato bem que poderia ser criação sua. A Kia nitidamente se inspirou no Civic para conceber a nova geração do seu automóvel. É como se o Kia fosse mais irmão do Civic que o próprio City. A dirigibilidade, o acerto de suspensão, o desenho das partes internas e do porta-malas, os faróis, tudo nos faz lembrar o sedã japonês.

A Kia bem que poderia ter adotado o nome do exterior – Forte – em vez de Cerato, afinal o novo sedã nada tem a ver com o apagado modelo que o antecedeu. Suas linhas são retas e as laterais, limpas. Os faróis formam um belo conjunto com a grade característica da marca e a traseira segue o conceito notchback, um pouco mais curta que a de sedãs comuns. Os repetidores de direção dos retrovisores são de série em todas as versões, fato incomum na concorrência.

Dimensões generosas

A Kia apontou uma série de sedãs como rivais do Cerato, a maior parte deles é de modelos menores e mais baratos, como o Mégane, Linea e o 307, mas os japoneses também estão na mira. Não só o City, da Honda, o mais citado nas comparações, como também as versões de entrada do Civic e do Corolla.

Contra eles, a Kia apresentou números que fazem do Cerato um carro mais espaçoso que a maior parte do segmento. O sedã coreano, por exemplo, tem entre eixos maior que City, Linea e Corolla e é mais largo que todos eles, inclusive o Civic.

Como não tem flex ainda – promessa feita para o 2º semestre de 2010 – a Kia trouxe o Cerato apenas com motor 1.6 16V com comando variável de válvulas, o mesmo que equipa o crossover Soul. São 126 cv de potência a 6 300 rpm e 15,9 kgfm de torque a 4 200 rotações.

Segundo a montadora, o Cerato é econômico mesmo utilizando gasolina apenas. A média da versão manual é de 12,9 km/l na cidade e 19,9 km/l na estrada. Já o automático faz 12,4 km/l e 19,4 km/l, respectivamente, segundo medição do Inmetro.

Por falar em transmissão, o sedã oferece o câmbio manual de 5 marchas e o automático de 4 velocidades e opção seqüencial, novidade da marca. Este último é exclusivo da versão top, com preço de R$ 57 900. Aliás, questionamos a Kia a respeito das designações de seus carros. O Cerato, por exemplo, terá apenas uma versão, a EX, com três pacotes batizados com os códigos E.101, E.202 e E.252. A montadora admitiu que o sistema dificulta a identificação dos modelos, mas ainda não teve uma posição da matriz sobre mudanças nesse aspecto.

A bordo do Cerato

Depois de conhecer o chinês Tiggo, da Chery, e seu acabamento um tanto grosseiro, entrar no Cerato foi uma experiência gratificante. Até a geração anterior, os carros coreanos apresentavam soluções internas tediosas e repetitivas. Não mais.

Hyundai i30 e Kia Soul já mostravam que haviam rompido com a mesmice, mas o Cerato vai além. Seu painel, revestimentos e o aspecto em geral são muito bons. Claro, ainda há alguns sintomas do passado, como o volante sem ajuste de altura e os trincos das portas padronizados, mas o clima a bordo é muito agradável.

O painel de instrumentos lembra o do Honda Fit, com os mostradores divididos por cilindros, mas a iluminação em vermelho e branco com o computador de bordo no centro é mais elegante. O console central é organizado e de fácil assimilação, sobretudo no ar-condicionado digital e seu botão de ajuste de temperatura. Os conectores de aparelhos como o iPod ficam na parte inferior dentro de um porta-objetos, muito prático para deixá-los a mão e não pendurados como em outros carros.

O ajuste do banco é idêntico ao do Civic: catraca para subir e descer e alavanca para soltar o encosto. O apoio de braço também é um clone do Honda, só não desliza para frente. A versão mais simples tem interior na cor preta enquanto os dois mais caros possuem duas cores. Os botões de acionamento dos vidros elétricos e o regulador dos retrovisores ficam inclinados no apoio da porta, uma solução rara entre os coreanos.

Direção empolgante

As boas surpresas surgem desde a partida, silenciosa e sem vibração. O volante possui revestimento de couro e ótima pegada – curiosamente, a Kia não oferece bancos em couro nem como opcional, ou seja, será trabalho da própria concessionária.

Avaliamos primeiro o modelo manual e, ao sair, logo ficou claro que a 1ª e a 2ª marchas são curtas para dar agilidade no trânsito. O pedal do freio é sensível até demais – basta um leve toque para o carro frear com força.

Acessamos uma estrada secundária, subimos as marchas rapidamente e a grata constatação que o Cerato tem um dos melhores câmbios manuais do mercado – engates curtos e precisos instigam a uma condução mais arrojada. A suspensão é firme, mas não tanto quanto a do Civic e o isolamento acústico, quase perfeito.

O Cerato tem cara de carro que ficaria bem com uma direção com assistência elétrica, no entanto, para nosso espanto, ela é hidráulica e um tanto pesada. Novamente, deve agradar aos que gostam de uma tocada mais esportiva.

Fizemos parte do trajeto no banco detrás para conferir o espaço interno. Mais uma vez, o Cerato foi bem. O espaço para as pernas é muito bom - o túnel central é quase plano, o que facilita o transporte de três pessoas atrás. Pena que os bancos são baixos e você se sinta um pouco escondido dentro dele. Já o Cerato automático, natural favorito nas vendas, não tem a mesma agilidade do manual, porém, suas respostas são corretas e o modo sequencial, de acionamento veloz o suficiente para quem quer mais conforto que desempenho.

O porta-malas leva 415 litros de bagagem e um estepe com rodas de liga leve. Sinal que a Kia soube tirar proveito do desenho sem sacrificar o espaço do bagageiro.

Vale a pena pagar R$ 3 mil a mais

Assim como ocorreu com o Soul, também o Cerato chega primeiro apenas nas versões mais equipadas. O modelo E.101, com preço de R$ 49 900, só estará nas concessionárias no final de setembro. Mas não vale esperar por ele.

São apenas R$ 3 mil de diferença para o E.202 e você leva muitos itens indispensáveis como freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, ar-condicionado digital, apoio de braço central, rodas de liga leve de 16 polegadas e não de 15, além de detalhes internos como painel e maçanetas em aço escovado e os dois tons de cores do painel.

O prognóstico da Kia sobre as vendas do Cerato são otimistas. O carro começa a ser vendido no próximo fim de semana, ou seja, restam quatro meses para o final do ano e a expectativa é de emplacar 3 000 unidades até lá, média de 750 carros por mês. É pouco para uma Honda ou Toyota e mesmo para Fiat ou GM, mas como importado será um marco. A marca coreana diz que ampliará sua rede de 107 para 152 concessionárias este ano, uma necessidade para quem quer vender mais.

O que preocupa nessa estratégia é a capacidade limitada da fábrica da montadora na Coréia do Sul. Segundo José Luiz Gandini, presidente da Kia no Brasil, “temos problemas com a alta demanda do Soul e do Cerato. Os demais modelos como o Sportage e a Carens têm estoque disponível”. Mas qual é a vantagem de possuir dois modelos desejados se não se pode dar conta da procura? Se não houver planejamento, o grupo Hyundai-Kia, que comemorou o 5º lugar em vendas mundiais, pode acabar sendo superado novamente pela Ford, a mãe de todas as montadoras.

Ficha técnica

Kia Cerato 2010 E.252 1.6 16V gasolina automático 4p
Preço R$ NaN (09/2019)
Categoria Sedã médio
Vendas acumuladas neste ano 1.247 unidades
Motor 4 cilindros, 1591 cm³
Potência 126 cv a 6300 rpm (gasolina)
Torque 15,9 kgfm a 4200 rpm
Dimensões Comprimento 4,53 m, largura 1,775 m, altura 1,46 m, entreeixos 2,65 m
Peso em ordem de marcha 1248 kg
Tanque de combustível 52 litros
Porta-malas 415 litros
Veja ficha completa

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