Grandalhão, Versa ganha novo visual e motor 1.0
Sedã da Nissan agora é nacional, assim como o March, mas marca está mais preocupada em aproximar sua imagem da Honda e da Toyota
A Nissan é uma marca japonesa de altos e baixos no Brasil. Chegou ao país na década de 90 fazendo sucesso com o SUV Pathfinder e chegou a vender modelos variados como sedãs de luxo e cupês esportivos, além da picape Frontier, seu produto mais antigo no país. Mais tarde decidiu focar em veículos mais acessíveis como a minivan Livina e passou a aproveitar a janela mexicana que permitia importação sem impostos.
Do México vieram alguns sucessos como o Tiida, o March e o Versa e também veículos pouco interessantes como o Tiida Sedan e o primeiro Sentra – os seguintes, ao contrário, encontraram um espaço no mercado. Mas a festa acabou em 2012 quando o governo brasileiro, vendo o déficit crescente com os mexicanos, barrou o livre comércio de automóveis. Até aí a Nissan já havia decidido ter uma fábrica própria no Brasil.
Em nome da qualidade
O novo Versa, lançado nesta semana, é parte dessa nova estratégia, em que a qualidade e o pós-venda ficam em primeiro plano. Ficaram no passado as memoráveis (e incômodas para a concorrência) campanhas de publicidade com pôneis malditos e engenheiros irritados que geraram repercussão, mas que não aproximaram a Nissan das suas conterrâneas Honda e Toyota, já com a imagem consagrada no Brasil.
Curiosamente, agora que a Nissan tem uma fábrica moderna e própria no Brasil ela optou por ser precavida. “Nossa meta é terminar 2015 com 100 mil unidades vendidas”, disse Jean-Philippe Thery, responsável pelo novo Versa. É praticamente o mesmo que a marca fez em 2012, quando ainda não sofria com as cotas de importação, mas bem mais que as 72 mil unidades de 2014.
O novo Versa deve ajudar nessa meta com cerca de 25 mil unidades, ou seja, pouco mais de 2 mil unidades por mês. Isso coloca o sedã em briga direta com o Ka+, da Ford, e o ‘primo’ Logan, da Renault, porém, distante dos ponteiros nesse segmento, o Prisma, Siena, Voyage e HB20S.
Design morno
Se chegar nesse volume, o Versa deve se aproximar dos patamares que vendia logo que veio do México, mas naquela época a Nissan só não vendia mais carros por não ter como importá-los. Agora, não. Emplacar isso é um reflexo do mercado e nesse aspecto o sedã de origem japonesa ainda deve.
É verdade que a Nissan corrigiu dois pontos fracos do primeiro modelo, a ausência de uma versão 1.0 e o interior pouco inspirado. Nessa versão nacional reestilizada, o Versa ganhou interior mais agradável e conta com o moderno motor 1.0 de 3 cilindros que estreou no March no mês passado.
Ele também continua a oferecer uma distância entre-eixos de sedã médio, com 2,6 metros, e que o deixa grandalhão perto dos concorrentes. Mas é fato também que ele não exibe a mesma desenvoltura na largura.
O estilo é talvez o ponto-chave para entender as perspectivas da Nissan no Brasil. A marca nunca foi uma referência nesse sentido, basta lembrar do Tiida Sedan ou do primeiro March, conhecido como Micra na Europa. A atual geração do Versa é apenas aceitável no visual e as modificações promovidas – faróis maiores, a grande grade cromada semelhante ao Sentra e ao Máxima, e o para-choque mais envolvente – só suavizaram a falta de inspiração.
Portanto, nas ruas comparar o Versa com um HB20S, um Prisma ou um Voyage é uma certa covardia em matéria de beleza. Até o Logan, quem diria, hoje tem um design muito mais bem resolvido.
Talvez essa realidade tenha ajudado a Nissan a decidir pelo caminho da qualidade. “Se não temos o carro mais bonito que busquemos o carro mais confiável e barato de manter”, poderia ser um outro mantra para a montadora.
Nesse sentido, a Nissan tem feito a lição de casa ao oferecer três anos de garantia, revisões com preços em conta e conhecidos de antemão e uma preocupação em tornar a montagem de seus carros brasileiros impecável. Exemplo não falta nas irmãs japonesas Honda e Toyota, que gozam de uma fidelidade rara no Brasil.
A marca, aliás, lembra a todo momento a sua nacionalidade japonesa, mesmo que o carro seja hoje brasileiro, ontem mexicano, cujo motor 1.0 deriva de um propulsor europeu e que grande parte do boarding no Brasil seja de origem francesa – fruto da aliança com a Renault.
1.0 de luxo
Colocado nessa moldura, o novo Versa mantém seu ponto mais forte, que é o espaço interno acima da média (incluindo o porta-malas), ganha a companhia de itens mais buscados atualmente como central multimídia, câmera de ré e interior em couro, e também oferece exclusividades como o ar-condicionado digital.
O dono de um Versa da primeira safra talvez perceba poucas diferenças além das visuais. A marca mexeu na sensibilidade da direção elétrica de forma a deixa-la mais leve em manobras e mais dura em velocidades altas. O sedã ganhou rodas aro 16 na versão ‘Unique’, que reúne as principais novidades e custa caro, R$ 54.900 – nas demais permanecem as rodas aro 15.
É no motor que o Versa agora ganha uma alternativa diferente. Se antes ele não se dava ao luxo de brigar entre os sedãs com motor 1.0 agora ele chega com um propulsor moderno e econômico, com três cilindros e 77 cv de potência.
Mas não pensem se tratar de uma versão ‘popular’. Para a Nissan e outras marcas, os novos 1.0 fogem do estereótipo de motores fracos. A ideia aqui é privilegiar o uso urbano, onde eles entregam o torque necessário, mas com economia. Ou seja, não é carro para gente sem dinheiro, o que explica os preços entre R$ 40 mil e R$ 45 mil.
Preço mais alto, mercado concorrido, rivais fortes. A nova fase ‘pé no chão’ da Nissan parece que vai durar bastante tempo.