Plano de incentivos fiscais ficou bem abaixo das expectativas
Fernando Calmon questiona programa de descontos lançado pelo governo federal para reaquecer mercado de veículos novos
Os números de vendas em junho último e ao final do primeiro semestre (ler abaixo as estatísticas) demonstram que só vontade de acertar não é suficiente para dar um suporte crível ao mercado de veículos. Para começar, houve uma falha de comunicação ao se insinuar a volta do “carro popular”. Comentei anteriormente que esse tipo de veículo não tinha a menor chance de ser recriado em razão de inexistirem as condições técnicas e de mercado dos anos de 1990.
Apesar de o programa federal reservar os maiores descontos aos subcompactos por sua economia de combustível, os melhores resultados ficaram com as picapes pequenas (+ 53%) e os hatches compactos (+ 20%). Subcompactos e SUVs compactos subiram apenas 5% e 11%, respectivamente.
O programa criado por Medida Provisória (MP) incluiu automóveis e comerciais leves, além de caminhões e ônibus. Dessa forma dois terços dos incentivos ficaram para segunda categoria cujos preços são muito maiores. Depois houve um reforço para a primeira categoria e ainda assim em apenas 30 dias os recursos para os estímulos se esgotaram.
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Em razão da natural demora no estudo da MP houve grande retração nas vendas e acúmulo de estoques nos pátios dos fabricantes, o que obrigou a paralisação de várias linhas de montagem. A lição que fica: é contraproducente anunciar um programa de duração tão curta, embora necessário. Afinal, com a taxação sobre veículos leves mais severa do mundo qualquer alívio compensa. Porém, por apenas um mês, perturba mais do que ajuda. O Governo Federal já descartou outra revisão, mantendo apenas os incentivos para veículos pesados que devem durar no máximo mais três meses e sem nenhum reforço.
Neste mês de julho ainda haverá bons números a registrar porque cerca de 79.000 unidades vendidas deixaram de ser emplacadas em junho pelo acúmulo de serviços nos Detrans. Mas tanto a Anfavea quanto a Fenabrave mantiveram as modestas previsões de crescimento em 2023 (entre 2% e zero, respectivamente, anunciadas em janeiro deste ano).
Agora as expectativas se voltam ao início de redução cadenciada da taxa básica de juros pelo Banco Central, em agosto. Haverá mais três reuniões até o fim do ano. O mercado de veículos continua altamente sensível aos custos dos financiamentos.
No entanto, o máximo que se pode desejar hoje é um feliz 2024.
Vencedores em 16 categorias no primeiro semestre do ano
Com as vendas de junho impulsionadas pelo curto programa de incentivos fiscais do Governo Federal houve reflexos no acumulado do primeiro semestre. O crescimento foi de 10% de veículos leves e pesados em relação ao mesmo período de 2022.
A normalização na produção levou o Onix de volta à liderança entre os hatches compactos. Mas o melhor desempenho foi do Polo que em apenas um ano passou de 1% para 19% no segmento graças à versão de entrada Track, deslocando o HB20 da segunda para a terceira colocação.
O Corolla chegou a uma participação recorde no histórico de classificação desta coluna desde o seu início em 1999: 81% entre 12 concorrentes. Mas também se destacaram os BMW Série 3/4 com 71% de nove concorrentes. A chegada da picape Montana afetou a ex-recordista de participação entre todos os segmentos: Strada já alcançou quase 80%, porém enfrentou um mergulho para “apenas” 57%, embora ainda lidere com folga.
Houve mais três vencedores no primeiro semestre deste ano frente ao resultado de 2022. Panamera superou o Taycan (numa “briga” em família entre os sedãs grandes da marca Porsche); Cayenne deixou para trás os BMW X5/X6; Tracker caiu para o terceiro lugar, entregando a liderança para o T-Cross que penou para superar o Creta: 13,5% de participação contra 13% do rival sul-coreano.
Criei agora mais duas categorias para acompanhar a evolução das novas tecnologias: híbridos e elétricos. Estas representam apenas 5,6% e 0,6%, respectivamente, das vendas totais de modelos leves. Corolla Cross e XC40, respectivamente, lideraram no primeiro semestre do ano.
Ranking da coluna tem critérios próprios e técnicos com classificação por silhuetas. Referência principal é distância entre eixos, além de outros parâmetros. Sedãs de topo (baixo volume) e monovolumes (oferta reduzida) ficam de fora. Base de pesquisa é o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). Citados apenas os modelos mais representativos (mínimo de dois) e de maior importância dentro do segmento. Compilação de Paulo Garbossa, da consultoria ADK.
Hatch subcompacto: Mobi, 53%; Kwid, 46%. Kwid avançou.
Hatch compacto: Onix, 22%; Polo, 19%; HB20/X, 17%; Argo, 16%; Yaris, 5,9% ; 208, 5,8%; C3, 5,7%; City, 3%; Sandero/Stepway, 2%. Volta a liderar o Onix.
Sedã compacto: Onix Plus, 38%; Cronos, 20%; HB20S, 10,5%; Virtus, 10,3%; City, 7%; Yaris, 6%; Versa, 4%; Logan, 1%; Ampliada a vantagem do líder.
Sedã médio-compacto: Corolla, 81%; Sentra, 8%; Jetta, 3%. Corolla avançou ainda mais.
Sedã médio-grande: BMW Série 3/4, 74%; Mercedes Classe C, 8%; Audi A5/S5/RS5, 7%. Líder incontestável.
Sedã grande: Panamera, 39%; Taycan, 32%; Han, 12%. Panamera de volta à liderança.
Esportivo: Mustang, 50%; BMW M3/M4, 40%; Challenger, 5%. Mustang manteve posição.
Esporte: 911, 57%; 718 Boxster/Cayman, 20%; F-Type, 6%. Inabalável o 911.
SUV compacto: T-Cross, 13,5%; Creta, 13%; Tracker, 12%; Renegade, 9,4%; Kicks, 9,3%; Pulse, 9,1%; Nivus, 8,8%; HR-V, 8,7%; Fastback, 7%; Duster, 5%; Tiggo 5x, 2%. Briga intensa pela liderança.
SUV médio-compacto: Compass, 46%; Corolla Cross, 32%; Taos, 10%. Compass firme.
SUV médio-grande: Commander, 29%, SW4, 19%; Tiggo 8, 10%. Líder com folga menor.
SUV grande: Cayenne, 23%; BMW X5/X6, 14%; XC90, 13%. Cayennne recupera liderança.
Picape pequena: Strada, 57%; Saveiro, 21%; Montana, 16%. Strada, líder, encolhe um pouco.
Picape média (carga 1.000 kg): Toro, 30%; Hilux, 25%; S10, 16%. Liderança mantida da Toro.
Híbridos: Corolla Cross, 19%; Corolla, 12%; Tiggo 5x, 8%.
Elétricos: XC40, 28%; Yuan Plus, 13%; C40, 9%.
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