Audi R8 GT: a arte de superar os 300 por hora

Versão mais radical do superesportivo tem 100 kg a menos e 35 cv a mais. O resultado é mais velocidade e o preço de R$ 1 milhão

A velocidade máxima registrada em nosso teste foi de 315 km/h | Imagem: divulgação

Quando pensamos que muito às vezes já é demais, sempre chega alguém e surpreende oferecendo ainda mais. Pense por exemplo no superesportivo Audi R8 V10. Ele não é “super” à toa. Seu motor rende 525 cavalos de potência e seus 1.625 kg de massa são distribuídos perfeitamente entre os dois eixos, o que proporciona o equilíbrio praticamente ideal para a alta performance. Mas lembra da história do “mais”?

Pois bem. A Audi acaba de criar uma fera sobre rodas como nunca havia feito antes. É o R8 GT, uma versão ainda mais radical limitada em 333 unidades (apenas 3 para o Brasil) baseada no R8 com motor 10 cilindros em “V”. Mas esse aqui é mais potente, mais leve, anda mais rápido, é mais bonito e, claro, mais caro. Bem mais caro! Custa R$ 1 milhão – é o primeiro Audi com esse preço no Brasil -, bem acima dos “módicos” R$ 696.500 pedidos pelo R8 V10, que no final das contas come poeira do GT.

O motor do R8 GT segue sendo o 5.2 FSI, mas a vitamina extra da preparação da Audi elevou sua potência de 525 cv para 560 cv. Já o torque é uma “paulada” de 55,1 kgfm. O veículo também passou por um regime rigoroso e perdeu 100 kg.

R8 “magrelo”

Para reduzir o peso, a montadora encontrou soluções como diminuir a espessura das chapas metálicas e dos vidros e abriu mão até do verniz na pintura para perder meros 2 kg. O regime do R8 GT também é rico em fibra de carbono. O material superleve e resistente está por todo veículo substituindo uma série de peças de metal, mais pesadas. Os engenheiros da Audi ainda tiveram tempo para aliviar o peso de componentes de transmissão, interior, rodas e os freios, que no caso são de cerâmica, material mais leve e mais eficiente para frenagens.

Essa porção de alterações também mudou a cara do R8. Na série GT o que chama atenção de imediato é o grande aerofólio fixo na traseira, como se fosse um autêntico carro de corrida. Essa peça, junto do exaustor inferior no para-choque, é responsável por manter o carro estável no chão em velocidades altíssimas. Há também dois pequenos difusores no para-choque dianteiro, que também servem para melhorar o fluxo de ar ao redor da máquina.

Rompendo a barreira dos 300 km/h

A Audi do Brasil escolheu um local bastante apropriado para os jornalistas brasileiros acelerarem o R8 GT. Nada menos que as instalações da Embraer em Gavião Peixoto (SP), que possui uma pista (de aviões e eventualmente superesportivos) com 5 km de extensão. É a maior do hemisfério sul e a terceira do mundo. Nem a NASA possui uma pista tão longa. Mas para que isso tudo? Para passar dos 300 km/h, oras!

De indumentária completa (capacete, balaclava, macacão, luvas e sapatilha), como os pilotos da marca que correm as 24 Horas de Le Mans, me prendo ao banco concha com o cinto de segurança de quatro pontos de ancoragem. Além dessas proteções ainda tenho ao meu redor uma gaiola tubular, como as usadas em carros de competição de turismo. Esse componente existe para proteger o habitáculo na eventualidade de uma batida muito forte ou capotamento. Se algo der errado espero que funcione...

Novo recorde (pessoal)

A caminho da cabeceira da pista, partindo do meio dela, o R8 GT já mostra a que veio. Acelero fundo ao ser incentivado pelo instrutor ao meu lado. “Aproveite este momento para treinar as trocas de marcha a 8.000 rpm”, me avisa, e lá vou eu. 150 km/h, 250 km/h, 300 km/h e a velocidade vai subindo sem ainda ter engatado a 6° marcha do câmbio semi-automático R-Tronic. E pensar que ainda não estava valendo. “Dá pra acelerar mais”, avisa o piloto que me acompanha enquanto ainda vibro com meu novo recorde pessoal.

Hora de acelerar como nunca havia feito antes na vida. Bandeira verde e 3.500 metros de asfalto para acelerar (os 1.500 m restante da pista são para frear com segurança). Em menos de 4 segundos passo dos 100 km/h (a marca informa 3,6 s para esta prova). Paro de olhar para o velocímetro quando passo dos 200 km/h, o que, aliás, é extremamente fácil com este carro.

O foco agora é somente no conta-giros, tudo passa muito rápido. A troca de marcha ideal deste R8 é a 8.000 rpm, o suficiente para explodir um motor 1.0 nacional, e eu tenho apenas seis movimentos na borboleta esquerda do volante. Conforme a velocidade aumenta, o campo de visão afunila. Minha única referência é a linha central da pista, a mesma usada por pilotos para mirarem seus aviões na aproximação do pouso.

Enfim, engato a 6° marcha a mais de 300 km/h. O grito do motor é altíssimo e também é possível escutar o deslocamento de ar em volta do carro – quem ouve de fora pensa que é um avião a jato pousando, sem exagerar. Passo pelo ponto de aferição tão rápido quanto um carro de Fórmula 1 com o velocímetro acima dos 320 km/h, mas lembro que o ponteiro nunca indica a velocidade exata, infelizmente... Se fosse um avião já teria decolado.

Corro para o quadro de tempos para conferir minha marca: “apenas” 315,269 km/h. Não cheguei nem perto do jornalista mais rápido do dia, que passou dos 328 km/h (a máxima do R8 GT é 330 km/h, diz a Audi). Culpo o vento, a umidade do ar elevada e uma coceira na perna que tive no meio do caminho, mas não escapo de ser caçoado por meus colegas e os assessores da Audi. Ao menos posso me gabar de ser o repórter mais rápido do AUTOO. Ao menos por enquanto.