Dez notícias que queremos ouvir em 2012

Mercado brasileiro de automóveis teve seu melhor ano da história em vendas e já é um dos cinco maiores do mundo, mas há muito o que melhorar em todos os sentidos

2012: esperança de um ano de evolução | Imagem: Divulgação

Não somos uma China e nem temos o potencial de crescimento dos indianos, mas o mercado automobilístico brasileiro já pode ser considerado um dos mais maduros e competitivos do mundo. Passamos o ano de 2011 brigando com a Alemanha pelo 4° lugar em vendas e temos hoje quase 50 marcas diferentes disputando a preferência do consumidor. Mas continuamos muito atrasados em vários sentidos, seja na legislação capenga, na falta de infraestrutura de ruas e estradas e até nas condições de aquisição de um automóvel, um dos pontos que mais evoluíram nos últimos tempos. Veja a seguir dez pontos levantados por AUTOO que poderiam melhorar em 2012.

Impostos menores para os carros

Muito se falou em 2011 sobre o alto preço que pagamos pelos automóveis no Brasil. O governo e as montadoras associadas à Anfavea, no entanto, tentaram inutilmemte provar o contrário. A verdade é que pagamos muito por produtos nem sempre à altura do desejo do consumidor. A prova disso é que veículos semelhantes aos nossos custam menos tanto em países desenvolvidos como nos mais pobres que o nosso. A carga tributária é insana e nenhum fabricante instalado no Brasil tem ações negociadas na bolsa de valores, o que daria mais transparência a sua operação.

Ao contrário de outros setores, não existe uma empresa nacional que pudesse manter seu lucro no país. Embora pudesse estimular o mercado e também a exportação, a redução dos impostos parece a última coisa que o governo pensa em fazer, tamanho o volume de dinheiro arrecadado com as vendas recordes.

Benefícios para carros mais eficientes

Outra injustiça tributária. A legislação atual beneficia veículos com motores pequenos não necessariamente econômicos ou pouco poluidores. O correto seria que os carros com motores que emitissem menos poluição e gastassem menos pelo que produzem pagassem menos impostos. Isso acabaria com uma distorção no mercado interno que é o motor 1.0 litro, usado em carros grandes demais e que não tem potencial de exportação.

Programa de incentivos para carros ecológicos

Se não se preocupa em arrumar a casa, o governo brasileiro faz menos ainda em matéria de futuro. Veículos híbridos e elétricos, que poluem pouquíssimo – quando o fazem – não têm nenhuma vantagem em relação aos automóveis comuns. Pelo contrário. O elétrico Leaf, como não possui motor a combustão, paga a mesma taxa de IPI dos veículos com motores acima de 2.5 litros. Não há dúvida que o motor elétrico veio para ficar e não podemos ficar atrás nesse sentido.

Política de investimentos para o etanol

Eis um ponto vergonhoso para o Brasil. O mercado de etanol como combustível renasceu graças às autopeças que desenharam o sistema flexível como Magnetti Marelli e Bosch. Adotado pelas principais montadoras, o motor bicombustível permitiu que o país consumisse menos gasolina, uma situação praticamente exclusiva no mundo. Mas a falta de uma política para o setor fez com que o combustível oriundo da cana de açúcar tivesse seu preço elevado a níveis impraticáveis, causado pela alta demanda e pelo preço elevado do açúcar. Sem um direcionamento do governo, poderemos ver o etanol fracassar novamente. E pior. Deixaremos uma frota imensa de veículos flex utilizando combustível fóssil em condições inferiores às de automóveis com motores exclusivos a gasolina.

Garantia maior para todos os carros

Sinal de respeito de uma marca, a garantia foi ampliada nos últimos anos, mas basicamente para automóveis mais sofisticados. No segmento de compactos, por exemplo, a adoção é limitada aos fabricantes que buscam crescer no mercado. As quatro marcas tradicionais, no entanto, negam esse benefício a seus clientes.

Leasing operacional como opção

O brasileiro descobriu de maneira um tanto amarga que um veículo é um bem de consumo como uma geladeira, ou seja, ele perderá valor com o tempo. Os tempos de inflação e do mercado mais fechado tornaram o automóvel um investimento, como ocorreu com os telefones antes da privatização. Hoje comprar um carro é um negócio caro, seja pelo preço alto, pelo financiamento com juros altos ou pela desvalorização nos primeiros anos. Além disso, há a dor de cabeça na hora de revendê-lo. Com o leasing operacional (diferente do financeiro, já usado no país), pagaríamos uma parcela mensal e no fim do contrato poderíamos comprá-lo, devolvê-lo ou, então, trocá-lo por outro modelo mais novo. É uma das formas mais comuns para ter um carro no exterior.

Fiscalização e punição

Vivemos uma guerra diária no trânsito. Falta de planejamento viário, sinalização deficiente, segurança precária e, para piorar, muita gente desrespeitando regras básicas. E sem serem punidos. Agentes responsáveis por fiscalizar e multar são raros e atitudes erradas como conversões proibidas, desrespeito ao pedestre, trafegar na contramão ou mesmo a falta de uso de uma mera seta de direção só pioram nosso dia a dia. Qualquer que seja a infração ela deve ser punida. Ao respeitar as regras e os outros motoristas nós facilitamos nossa vida também. É questão de inteligência.

Pavimentos com qualidade

As esburacadas ruas brasileiras já viraram motivo de piada para estrangeiros. David Coulthard, ex-piloto da Fórmula 1, chegou a comentar que entendia porque o asfalto do autódromo de Interlagos era tão ruim. Não há justificativa para pavimentos tão precários que não o descaso de sucessivos governos que não exigem um trabalho de qualidade das empresas contratadas. Aqui, em vez de resolver o problema original, passamos a nos preocupar em comprar carros com suspensão elevada e com estrutura mais resistente. Basta uma volta em cidades nos Estados Unidos, Europa ou Japão – como AUTOO teve a oportunidade durante alguns lançamentos e salões – para ver que é possível rodarmos em ruas dignas.

Legislação mais rigorosa para a segurança

O último crash-test promovido pelo Latin NCAP só confirmou o que já se suspeitava. O carro vendido no Brasil tem segurança aquém do necessário. As montadoras dizem que cumprem o que a lei manda, ou seja, nossa legislação é conivente com a falta de segurança. A boa notícia é que a partir de 2014 os airbags e freios ABS serão obrigatórios, porém, quantas mortes poderiam ser evitadas até lá se a medida valesse já em 2012?

Menos roubos de carros

Talvez um dos piores aspectos relacionados aos automóveis. Nosso país é um oásis para todo tipo de contravenção ligada ao mercado de veículos. Todos os dias centenas de carros são roubados para fins diversos: uso em assaltos, fugas, para desmanches e mercados ilegais de reposição, etc. A incapacidade que os governos têm demonstrado nesse aspecto obriga os proprietários a recorrer a métodos absurdos como vidros escurecidos por filmes muitas vezes ilegais, blindagens que tornam o veículo um verdadeiro tanque de guerra, sem falar em alarmes, rastreadores, seguros contra roubos e assim por diante. Gastamos uma montanha de dinheiro para preservar um patrimônio que deveria ser protegido pelos órgãos públicos.