Onde estão os esportivos brasileiros?

Vorax e DoniRosset fizeram barulho ao estrear, mas hoje caíram no esquecimento

O design do carro é assinado pelo estúdio brasileiro AmoritzGT | Imagem: divulgação

Você se lembra do Rossin-Bertin Vorax? E do DoniRosset? Entre 2011 e 2012 esses dois superesportivos saíram dos sketches, ganharam forma e alguns fãs. Embora ambos ostentassem linhas agressivas e um belo coração sob o capô, destacavam-se por outro ponto em comum, sua nacionalidade. Tanto o Vorax quanto o DoniRosset são projetos genuinamente brasileiros. Cada um com suas peculiaridades, representaram um sopro de esperança de que uma montadora nacional, por mais que fosse de um nicho específico - no caso o de luxo - fosse adiante.

O Brasil é nada menos que o quinto maior mercado automotivo do mundo e até hoje não teve sequer uma montadora tupiniquim que obtivesse êxito. As diversas tentativas acabaram esbarrando em fatores como a falta de investimento, qualidade do acabamento dos veículos, design e, principalmente, o preço.

Após o burburinho gerado na apresentação dos superesportivos brasileiros, a situação foi ficando morna até esfriar. Hoje, nada mais se fala sobre eles, então o AUTOO  foi atrás para saber se houve algum avanço nos projetos ou se eles caíram mesmo no esquecimento.

Vorax

O Vorax foi apresentado durante o Salão do Automóvel de São Paulo em 2010 com o pretensioso objetivo de concorrer com as principais fabricantes do mundo. Isso mesmo, do mundo! Na apresentação do supercarro, suas qualidades se resumiam a superlativos. O modelo foi desenhado por Fharys Rossin – ex-projetista da GM – que se associou a Natalino Bertin Junior, proprietário da importadora Platinuss – empresa que atualmente sumiu do mapa.

Os números divulgados por Bertin eram impressionantes. Segundo ele, em três anos 30 milhões de reais haviam sido investidos enquanto outros 35 milhões seriam necessários até seu lançamento – que ocorreria no primeiro semestre de 2012. O Vorax custaria cerca de R$ 700 mil – com essa quantia pode-se comprar um Porsche 911 Carrera e ainda embolsar quase R$ 100 mil de troco. Entramos em contato com Rossin em busca de algumas respostas. Qual o estágio do projeto, se a parceria com o grupo Bertin ainda existe e a previsão para que o Vorax chegasse às ruas eram algumas de nossas dúvidas. Rossin precisava da aprovação de seus sócios diretores no negócio antes de nos dar qualquer resposta. A aprovação nunca chegou e as respostas menos ainda. Sequer sabemos se os sócios nesta parceria continuam sendo os Bertin.

DoniRosset

Em maio de 2012, eis que surge mais um represente brasileiro no segmento de superesportivos. Desta vez o candidato era o DoniRosset, uma iniciativa do empresário William Denis Rosset em parceria com o estúdio de design também nacional AmoritzGT, de Fernando Morita. A primeira unidade, um presente de Rosset para seu pai Donino, ficou pronta após consumir mais de 35 mil horas de desenvolvimento, diziam seus criadores, e, no entanto, o próximo passo da fabricante seria conseguir investidores para tocar a produção do carro em escala comercial.

A produção em série seria limitada em 50 unidades em um primeiro momento e o plano ainda envolvia a construção de uma fábrica em alguma cidade serrana do Brasil com intuito de transformar a linha de montagem em atração turística. Mesmo com o preço nas alturas - cada unidade custaria cerca de R$ 2 milhões - e com o projeto aparentemente parado um ano após a apresentação do carro, William Denis Rosset ainda não desistiu de seu sonho.

Em conversa com o AUTOO, o empresário afirmou que o projeto está andando, a passos lentos, mas está. Segundo ele, o carro foi digitalizado e foi firmada uma parceria com uma empresa italiana – cujo nome não foi revelado – para desenvolver a parte estrutural do veículo. Terminada essa fase e com os moldes definitivos do DoniRosset em mãos, ele partirá para a próxima e mais difícil etapa do projeto, conseguir investidores para, finalmente, iniciar a produção do superesportivo. Alguém se candidata?

Histórico de fracassos

Diversos fatores contribuem para que o Brasil acumule tentativas de emplacar automóveis nacionais. A criação de uma montadora exige uma série de recursos e muito fôlego financeiro. Um fabricante 100% nacional, além de ter que enfrentar uma competição ferrenha com marcas já consagradas em nosso mercado como a GMVolkswagen, Ford e Fiat, ainda teriam que criar um produto que agradasse os brasileiros, tarefa nada fácil. Outro agravante é a falta de políticas de incentivo do Estado para que novas montadoras consigam se estabelecer no mercado. 

Em 1956, o primeiro carro era produzido no Brasil pelas Indústrias Romi S.A., com sede em Santa Bárbara dOeste, interior de São Paulo. No entanto, o carrinho batizado de Romi-Isetta levava apenas duas pessoas enquanto as famílias da época eram enormes. Já o Puma arrebentou com um moderno design nas carrocerias de fibra de vidro na década de 1960, mas não tinha capital para investir e salvar a empresa da bancarota. A Gurgel, mesmo com design de gosto duvidoso, chegou a produzir 30 mil veículos, mas não conseguiu fugir da falência. 

A marca brasileira de maior sucesso até então é a Troller, que tanto se destacou que acabou comprada pela Ford em 2007. Como dizem, brasileiro não desiste nunca e ainda estão no páreo a Agrale, de Caxias do Sul (RS), e a TAC, de Joinville (SC).

Fundada em 1965, a Agrale produz tratores, pequenos caminhões, plataformas para ônibus e um utilitário para uso militar, o Marruá. Já a TAC tem uma tímida produção de um único modelo, o jipe Stark. Ambas fabricantes conseguem se manter pois seus produtos pertencem a um nicho, que acaba por segmentar também seus clientes. Caso optassem por comercializar  modelos mais "populares", que concorressem direto com os grandões do setor, possívelmente acabariam fechando as portas. 

Curiosamente, a Sigma Sport Car, uma  pequena montadora de Santo André, no ABC paulista, conseguiu recentemente um feito inédito: exportar veículos para os Estados Unidos, segundo maior mercado automotivo mundial, atrás apenas da China. A empresa, fundada em 2006 pelos irmãos Luiz e Ricardo Rodrigues da Silva, fechou contrato para exportar pelo menos 375 unidades hot-rod Sigma, veículo produzido artesanalmente, que chega a custar até R$ 260 mil cada um.