Câmbio automatizado vai desaparecendo do mercado...ainda bem
Além de inferior à transmissão automática, equipamento tem preço salgado e desvaloriza mais que opção manual
Quando reapareceu no Brasil em 2007, o câmbio com embreagem automatizada ganhou o singelo apelido de “Easytranco” numa brincadeira com a versão Easytronic da minivan Meriva, da Chevrolet. A montadora americana logo notou que oferecer a solução no lugar de uma transmissão automática autêntica seria uma roubada graças ao desconforto de usá-la e abandonou a ideia.
Mas Volkswagen e, sobretudo, Fiat decidiram dar uma chance ao equipamento, seguidas bem mais tarde pela Renault. Foi pura perda de tempo e dinheiro, nesse caso dos clientes que acreditaram que o Dualogic, GSR, i-Motion e Easy-R, nomes pomposos para o item fossem oferecer o mesmo conforto de um câmbio automático.
Aos poucos, a oferta de versões com esse equipamento, também chamado de embreagem robotizada, vem desaparecendo. A mais recente foi a Renault que tirou o item das opções do Logan e Sandero. A próxima será a Volkswagen que finalmente equipará Gol e Voyage com transmissão automática pela primeira vez em sua história.
Mesmo a Fiat, a marca que mais apostou na solução, hoje tem menos opções do gênero em sua linha. O rebatizado câmbio GSR existe no Mobi, Uno e nos novos Argo e Cronos, mas as vendas não são nenhuma maravilha, com exceção do sedã cuja participação foi de quase 24% em abril e maio. No Mobi ela é de somente 2,5% e no Argo, 9%.
E têm de ser mesmo. Basta uma pesquisa no site da Fipe para constatar que há versões manuais de alguns carros usados que valem o mesmo que suas equivalentes com transmissão automatizada. Quer um exemplo? Um Punto Essence 1.6 manual 2014 é avaliado em R$ 35.279 pelo instituto enquanto a versão Dualogic R$ 35.295, ou seja, R$ 18 a mais. Mas há quatro anos essa diferença era de nada menos que R$ 3.109. Em outras palavras, quem levou o Punto automatizado para casa viu esses R$ 3 mil evaporarem junto com as trocas de marchas.
Limite físico
Mas, afinal, o que faz o sistema de embreagem automatizada ser tão criticado? O conceito em si não é ruim. A grosso modo, significa ter um dispositivo mecânico que aciona a embreagem do carro em vez do motorista. O problema reside na forma em que ele “solta” essa embreagem. Humanos quando dirigem aliviam o pedal do acelerador ao trocar de marchas, algo instintivo e que ameniza o tranco quando a marcha é engrenada. Já quando o acionamento se dá pela solução “robotizada” não temos esse hábito. O jeito que as marcas encontraram foi suavizar esse processo, mas isso os tornou lentos e indecisos em muitas situações.
A adoção das borboletas e o aprimoramento do software desse sistema melhoraram o resultado a um ponto aceitável, porém, como me disse uma vez um engenheiro de transmissão de uma grande montadora “há um limite físico que impede trocas sempre suaves”. Em outras palavras, por melhor que seja o software ele vai dar um tranco ou uma resposta lenta em certo momento.
Até aí tudo bem, o câmbio automatizado poderia continuar no mercado como uma alternativa mais em conta que as caras transmissões automáticas, CVT e de dupla embreagem. O problema é que as montadoras tentaram “vender” o produto como “automático” e também cobram caro por ele, quase tanto quanto um automático genuíno. A Fiat, por exemplo, acha justo cobrar R$ 3.400 (aumento de 7,8%) a mais pelo Mobi GSR (com algumas perfumarias incluídas).
É muita coisa pelo benefício adquirido. Seria sensato cobrar no máximo R$ 1 mil pelo sistema, já prevendo que no futuro esse valor será perdido no mercado de usados. Mas a tendência é que o câmbio automatizado seja apenas uma triste lembrança do passado, assim como seus percursores da tecnologia no Brasil, o Mercedes-Benz Classe A com sistema AKS e o Palio Citymatic que dispensavem o pedal de embreagem mas mantinham a alavanca manual do câmbio. Ao menos esses não ganharam apelidos jocosos.
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