Ricardo Meier

Comenta o mercado de vendas de automóveis e tendências sustentáveis

Dilema do Brasil: investir em híbridos flex ou partir para carros 100% elétricos?

Governo, entidades e montadoras discutem novas medidas de incentivo à indústria automobilística, mas há divergências quanto ao caminho mais promissor rumo à eletrificação

No final da década de 70, o Brasil descobriu uma forma de driblar a crise do petróleo, que arrastou a economia mundial para uma época de inflação elevada e estagnação. Era o Pró-Álcool, um programa que visava substituir a gasolina nos automóveis da época.

A ideia era sensacional e já antecipava a discussão ambiental há mais de 40 anos, no entanto, os problemas na cadeia de produção e distribuição, além do desempenho não tão empolgante dos motores movidos a álcool (hoje rebatizado como etanol) minaram a confiança do consumidor e o Pró-Álcool virou mico.

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Foi apenas no começo de 2000 que a solução surgiria e por iniciativa de empresas como Magnetti Marelli e Bosch, que desenvolveram a tecnologia flex, capaz de adaptar os motores a funcionar tanto com gasolina quanto etanol.

Em maio de 2003, com o lançamento do Gol Total Flex, teve início a fase mais bem sucedida do etanol como combustível e que, graças a outras melhorias, permanece relevante 20 anos depois.

Mas o etanol nunca repetiu esse sucesso no exterior, fruto de uma impressão talvez equivocada (ou propositalmente espalhada) de que a adoção de motores movidos a combustível renovável poderia fazer com que a produção de alimentos fosse reduzida.

Entre a cruz e a espada

Seja como for, o Brasil está de volta ao dilema de buscar uma solução para o uso do petróleo. Desta vez não se trata de escassez do produto, mas de uma mudança ambiental. Os países mais desenvolvidos já estabeleceram metas ambiciosas para eletrificar a frota de veículos a fim de aposentar os motores a combustão nas próximas décadas.

O consenso (ou quase isso) é que os BEVs (Battery Electric Vehicles), como são chamados, são o futuro. Leia-se veículos movidos apenas a bateria. Esse movimento está ganhando força sobretudo na Europa, onde países como a Noruega já vendem 80% de seus automóveis com motores apenas elétricos.

Como não é novidade, o mercado brasileiro, com seus altos custos, burocracia e impostos, não consegue acompanhar o movimento internacional. E é justamente nesse momento que surge a dúvida: que rumo tomar?

Detalhe do conjunto propulsor híbrido flex aplicado nos modelos nacionais da Toyota
Detalhe do conjunto propulsor híbrido flex aplicado nos modelos nacionais da Toyota
Imagem: Divulgação

Até mesmo as montadoras andam divididas. Grupos como Stellantis e Toyota pendem para os modelos com propulsão híbrida, incluindo aí a opção flex no motor a combustão. Dessa forma, o país conseguiria atingir níveis de emissão baixo em ambos os usos.

Outras marcas como Volkswagen, CAOA Chery e GWM seguem em direção semelhante, mas há exceções.

Nada menos que a General Motors tem se posicionado a favor dos elétricos puros. Fabricantes como Honda e Nissan também podem pender para esse lado, mas não está claro ainda se de forma antecipada.

Na mesa estão questões complexas como o custo de investir em plataformas 100% eletrificadas e mesmo o pensamento que nem esses veículos são exatamente limpos, já que a produção das baterias e seu descarte ainda não convencem alguns ambientalistas.

Elétricos mais baratos de produzir no futuro

Mas há o argumento que nos remete justamente ao Pró-Álcool. Com veículos híbridos flex, o Brasil não pode continuar à margem do mercado mundial de automóveis?

É uma possibilidade, embora a preferência pelos híbridos seja um lugar comum para nações em desenvolvimento.

Volkswagen ID.2all 2024
Volkswagen ID.2all 2024: elétricos pequenos já estão a caminho na Europa
Imagem: Divulgação

O risco, no entanto, é que para manter a infraestrutura do etanol viva, o governo acabe tornando todo o processo produtivo caro e com baixa demanda já que as exportações não fariam muito sentido.

E é preciso pensar a longo prazo. Se hoje produzir carros 100% elétricos é caro, nos próximos anos, com a proliferação desse produto, os custos cairão e talvez ocorra o inverso. Os híbridos se tornem raros e com isso mais caros.

Fato é que, a despeito das soluções de curto prazo soarem sensatas (quanto mais cedo reduzirmos as emissões, melhor), cedo ou tarde será necessáiro realizar a eletrificação completa da frota de veículos no Brasil. E para isso se deve planejar esse futuro desde agora.

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