Rodamos 2 mil quilômetros com o novo HB20S

Sedã foi o último da gama HB20 a passar pela reestilização da linha 2016 e nós o submetemos a uma extensa avaliação

Hyundai HB20S 2016 1.0 | Imagem: Leonardo Fortunatti

Até 2013, colocar um sedã da Hyundai na garagem era algo que apenas quem tinha uma conta corrente gorda poderia fazer. Para quem não tinha esse poder de compra e sonhava com um Azera ou Sonata na vaga, nasceu o HB20S, um modelo compacto baseado no hatch HB20 que foi apresentado no Salão de São Paulo de 2012.

Como o hatch, o HB20S passou pela reestilização no fim de 2015 para continuar com armas em mãos na briga pelos compradores. A receita foi a mesma, com novos parachoques dianteiros e traseiros e lanternas e faróis novos, dependendo da versão. No caso do sedã, o “sorriso metálico” da grade é completo, enquanto o hatch só possui as bordas cromadas.

Nosso por 1 mês e 2 mil km

A unidade que você confere nas fotos é o HB20S Comfort Style, topo de linha com o motor 1.0 12V flex de três cilindros e 75/80 cv de potência, com preço de R$ 49.975. Sua vida não foi fácil durante 1 mês e mais de 2 mil quilômetros rodados na cidade e estrada, carregado e vazio. Ele foi o escolhido para aquelas tarefas de fim de ano, como ir ao mercado, viajar, tomar diversas pancadas de chuva e procurar vaga no shopping na véspera de Natal (sim, esqueci um dos presentes).

Algumas vagas ao lado aqui no condomínio, o HB20S do meu vizinho parecia mais velho que o "meu" HB20S reestilizado. Apesar de apenas retoques, as mudanças da versão 2016 caíram bem no sedã, mesmo sem os faróis com projetores e LEDs, exclusividade da topo Premium. Por dentro, partes em plástico bem encaixado, sem rebarba, painel em preto e cinza e bancos com tecidos superiores ao HB20S anterior. O tropeço ficou na falta de dois pedaços de tecido, nas portas traseiras, que ficaram apenas com o forro plástico. É estranho e chega a parecer um erro de montagem. 

Olá, prazer. A noite é nossa

O primeiro contato com o HB20S que passou por esse teste foi positivo. Banco do motorista com ajuste de altura e o volante com altura e profundidade foram boas surpresas para achar a melhor posição de dirigir, o que resulta em menos cansaço depois de horas ali sentado. Nas portas, botões dos vidros elétricos (todos com funções de um toque para subida e descida) foram outra surpresa em um mundo onde isso é cada vez mais raro ainda mais nesta faixa de preço. Aqui também poderia estar a regulagem dos espelhos elétricos, mas ele se esconde no lado esquerdo do painel.

Falando na lista de equipamentos, ele tem o que dá para dizer o básico para a sobrevivência urbana, como o ar-condicionado, direção hidráulica, conjunto elétrico, fixação de cadeira infantil Isofix, computador de bordo com aviso de revisão e som com Bluetooth. Se deu ao luxo de ter a chave canivete com abertura do porta-malas, setas integradas nos espelhos e rodas de 15”, mas em um sedã com uma visão traseira restrita o sensor de estacionamento seria muito bom para quem já pagou quase R$ 50 mil.

Na primeira noite já começamos nosso breve relacionamento com um ponto de dúvida que continuou durante todo o tempo. Andar no 1.0 de três cilindros do HB20S exige mais paciência que, por exemplo, os mesmos motores do Ford Ka+ e Nissan Versa. A faixa de torque, a força do carro, aparece apenas perto dos 4.500 rpm, que exige acelerar mais e usar mais o câmbio. Ao menos este tem engates bons, bem precisos, como os tão elogiados engates da Volkswagen. O problema ficou no consumo, que a Hyundai e o Inmetro divulgam como 8,5 km/l em circuito urbano com etanol, e “no mundo real” com trechos de trânsito e ar-condicionado ligado, ficou na faixa dos 7,5 km/l, justamente pela necessidade de mais peso no acelerador e manter giros mais altos. 

Espaço tem, mas balança

Com uma ou duas pessoas a bordo, o HB20S se comporta bem. Mesmo que não divulgado, fica claro que alguns elementos da suspensão do HB20S – e do HB20 hatch – foram modificados, colocando fim nas batidas secas que enchiam a paciência nas antigas versões. Confortável, ele foi elogiado também pelo espaço interno, principalmente no banco traseiro e no porta-malas de 450 litros, importante para quem procura o carro para a família. Qual o maior desafio para um sedã 1.0? Lógico que enfrentar os carros mais potentes na estrada, e a situação piora quando está carregado. E lá vamos nós, três adultos e o porta-malas carregado com peso próximo de 4 malas e tanque cheio de etanol.

Lembra que eu falei sobre a força em rotações mais altas? Na estrada ela é útil para manter o HB20S nos 120 km/h até aparecer uma subida, que irá exigir uma marcha pra baixo e os números de consumo diminuindo no computador de bordo. Mesmo assim, dos 9,4 km/l divulgados, chegamos aos 10,5 km/l!  Mas duas coisas que percebemos na cidade ficou clara na estrada: quando a traseira tem qualquer peso, a ação dos amortecedores traseiros é prejudicada e a traseira balança mais, mas não chega ao fim de curso. Não prejudica a estabilidade, mas vai enjoar quem tem estômago mais frágil. Outro ponto é a direção hidráulica, que não tem mudança no peso conforme velocidade, deixando uma falsa sensação de instabilidade principalmente em uso rodoviário.

E então? Qual é?

No fim deste relacionamento, o HB20S, como tudo, mostrou suas qualidades e defeitos. Ele é bonito, bem acabado, espaçoso e confortável mas contra tem um motor que precisaria se atualizar, ainda mais depois que a concorrência também descobriu a mágica dos tricilíndricos, com a partida a frio sem tanquinho e mais força em rotações mais baixas que iria colaborar no consumo, que não é ruim, mas tem como ser melhor. Se for usar o sedã carregado ou na estrada na maior parte do tempo, coloque mais um pouco na parcela e abrace o 1.6, com até 128 cv, de R$ 54.625 com câmbio manual de 6 marchas. Ou um Azera usado e todas as suas despesas de carro já rodado.