Schumacher: 'a F1 ficará triste sem Barrichello'
Em papo descontraído, o piloto alemão falou sobre sua carreira, a saudade do pódio e até de sua cadela Flow, que resgatou no Brasil em 1996. E claro, de Rubens Barrichello
Distante anos-luz de ser o “inimigo número 1 dos pilotos brasileiros na Fórmula 1", Michael Schumacher, piloto da equipe Mercedes-Benz-Petronas, já está no Brasil e sim, já foi a uma churrascaria com toda turma da escuderia, como é tradição no circo. O heptcampeão da F1 afirma que não voltou à categoria para brincar e diz que ainda quer voltar a vencer corridas e campeonatos.
Sem data para encerrar a carreira, Schumacher, hoje aos 41, se diz animado com o desenvolvimento do carro para a próxima temporada e afirma que sua experiência, junto com Ross Brown (chefe de equipe), o poderá conduzir novamente ao caminho das vitórias.
Descontraído e simpático (mais do que os brasileiros no geral possam imaginar), o piloto diz “oi” para todos, quando não “ciao” (o “olá” em italiano, idioma que o piloto aprendeu a dominar nos tempos de Ferrari) e sempre faz brincadeiras com o pessoal da Mercedes. “Ele é um ser-humano extraordinário e com isso ‘ganha’ a equipe”, revelou com entusiamo Norbert Haug, o chefão de toda divisão mundial da ala Motorsport da Mercedes-Benz, momentos antes da entrevista do AUTOO com Michael Schumacher. Confira:
IG - Como você avalia seu desempenho na temporada deste ano?
MS - Nós certamente atingimos os objetivos no ano passado, mas neste ano não conseguimos o mesmo. Sabemos disso. Temos que entender o que não está dando certo, acho isso muito importante para melhorarmos nossa direção no futuro. Isso vale para a equipe inteira e acredito que há muito potencial para melhorarmos. Claro que não podemos pular de onde estamos atualmente para a primeira colocação, isso não é possível. A competição é muito dura e para você obter sucesso na Fórmula 1 é dar um passo de cada vez. Mas nosso plano é melhorar para chegarmos as primeiras posições na próxima temporada.
IG - O que você espera da Mercedes no próximo ano?
MS - O desenvolvimento está na direção certa e como eu já disse, temos que seguir o passo-a-passo para obter o sucesso esperado.
IG - O que você acha da nova geração de pilotos da F1?
MS - A Fórmula 1 ficou marcada no passado pelo talento dos pilotos vitoriosos, mas para vencer e alcançar o topo hoje é preciso mais do que isso. A nova geração de pilotos certamente é inteligente o suficiente para entender o que eles precisam para vencer e focar nisso. Sebastien (Vettel), Fernando (Alonso) e Lewis (Hamilton) são os caras que hoje têm essa capacidade e habilidade para ser um piloto completo. Eles estão aqui para desafiar e serem desafiados.
IG - Sente saudades do pódio?
MS - Absolutamente, sim. Mas para eu voltar a subir ali preciso ganhar corridas, um campeonato. Foi para isso que eu vim. Estou disposto a construir um nova história com a Mercedes-Benz, assim como fiz nos tempos da Ferrari.
IG - Qual é sua participação no desenvolvimento dos carros de rua da Mercedes?
MS - Não atuo nessa área, diferente de quando era piloto da Ferrari. Estou 100% focado no projeto da F1. Obviamente, quando eu terminar minha parte por aqui (na categoria), certamente vou me envolver nessas atividades da Mercedes. Mas o futuro ainda não está decidido, vamos ver.
IG - E qual é sua participação no desenvolvimento dos carros de F1?
MS - A minha experiência, a relação que tenho com Ross (Brawn, chefe da equipe do alemão hoje e nos tempos de Ferrari) e mais pessoas que conheço do passado e que sabem de meus pontos positivos e fraquezas me usam para desenvolver mais rapidamente um carro para voltarmos ao topo. E eu estou aqui para isso, por isso eles me escolheram.
IG - O que você acha da insistência da imprensa brasileira em sempre perguntar sobre os pilotos brasileiros ou sobre quem será o próximo Ayrton Senna?
MS - Isso não acontece somente aqui no Brasil. Ouço a mesma história da imprensa na Itália, na Alemanha... Temos um herói nacional aqui (se referindo à Ayrton Senna) e há outros que também podem ser (os outros brasileiros no grid). É natural que exista essa pergunta.
IG - Como é sua relação com o público brasileiro?
MS - Nesses 20 anos de Fórmula 1 eu estive 20 vezes em São Paulo, além de ter conhecido outros lugares em ocasiões diferentes. Acho que é um povo de mente muito aberta para relacionamentos e sempre nos recebem muito bem. Os fãs brasileiros apreciam a competição e a habilidade dos pilotos, e acho isso uma atitude muito positiva. Sei disso por que já tive companheiros de equipe brasileiros (Rubens Barrichello e Felipe Massa). Sei também que sempre fui visto como um inimigo no caminho do Brasil, mas tenho a sensação de que gostam de mim por aqui.
IG - O que um carro de F1 precisa ter para ser campeão hoje?
MS - O foco principal hoje em dia é a aerodinâmica e isso é algo que definitivamente precisamos melhorar. Mas isso, claro, não é a única preocupação. É preciso maximizar todas as partes do carro. Mas o grande desafio realmente é a parte aerodinâmica.
IG - E o que um carro de rua precisa ter para te convencer?
MS - Eu acho que é como vinho. Você tem tantas opções e tantos sabores diferentes e cada um remete a um desejo diferente.
IG - Qual você prefere?
MS - Veja bem, eu não posso pensar em ter outro carro em minha garagem que não seja um Mercedes-Benz (risos). Mas certamente acho essa uma boa opção. Também tenho dois carros da Ferrari. Eu realmente sou um cara de sorte!
IG - Qual sua pista favorita na F1?
MS - Suzuka (Japão) e Spa (Bélgica).
IG - O que o circuito de Interlagos tem de diferente que o atrai?
MS - É uma pista muito técnica, que requer muito esforço, e com um pouco de ondulações, algo que vem sendo melhorado bastante todos os anos. É boa para ultrapassagens, pois você tem um mix variado de possibilidades. Há curvas em velocidade altas e lentas, sempre desafiadoras. E isso é algo que nós gostamos. Por isso o público brasileiro fica tão eufórico do lado de fora. Tenho sorte de ter participado de tantos GPs por aqui.
IG - Que fim levou o cachorro que você adotou no Brasil? (Schumacher adotou uma cadela que invadiu a pista de Interlagos em 1996 e a levou para Europa)
MS - Você está falando da Flow. Ela já deu seu bye-bye. Eu a adotei no GP do Brasil de 1996. Infelizmente ela já passou desta para melhor há dois anos. Foram 15 bons anos ao lado dela.
IG - O looping com o SLS AMG visto no comercial realmente é possível? (No anúncio o piloto realiza a manobra dentro de um túnel. No entanto, tudo é feito no computador)
MS - Se você mensurar todos os números de física e o downforce que um carro pode ter, com certeza poderá andar no teto de um túnel. Faça as contas. É absolumente possível gerar downforce o suficiente para dirigir no teto. Se eu posso fazer isso com o SLS? Claro, vocês viram no vídeo (mais risadas).
IG - De todos os seus parceiros de equipes, de qual gostou mais?
MS - Meu melhor amigo, obviamente foi Felipe (Massa). Ele também é um piloto dos bons, rápido por natureza. Nico (Rosberg, companheiro na Mercedes) provavelmente também é um dos melhores. Rubens (Barriquello) também foi muito forte. Sempre tive companheiros de equipe muito bons, desde os tempos de Irvine (Eddie, na Ferrari). É difícil para mim dizer qual foi o melhor. As condições vem e vão de acordo com o comportamento do carro. Por exemplo, se você colocar Rubens em um carro com tendência a deslizar de frente ficará muito difícil para mim. Se o monoposto é do tipo que sai de traseira, fica complicado para ele competir.
IG - O que acha da possibilidade de Rubens Barrichello se aposentar da F1 neste ano? (o piloto ainda não renovou o contrato com a equipe Williams)
MS - Acho que será triste se Rubens não correr no próximo ano. Por tudo que ele dedicou à Fórmula 1 nesses quase 20 anos de carreira ele merece um carro competitivo em 2012. E depois disso então quem sabe ele pode dizer “ok, eu fiz a minha a parte e agora quero ir embora”. Eu espero que ele passe por essa fase e continue correndo.