'Efeito Fiat' já é notado nas vendas da Peugeot e Citroën
Modelos como o 208, 2008 e C4 Cactus têm crescimento acima da média no atacado, artifício que a montadora italiana utiliza como nenhuma outra
Na semana passada, a Stellantis, holding que controla 14 marcas de automóveis herdadas da união entre FCA e PSA, destacou o crescimento de vendas da Peugeot até 2021.
Segundo a empresa, a marca francesa cresceu 131,4% em volume de vendas quando comparado ao mesmo período do ano passado. “Este crescimento reforça o plano de expansão da marca e indica que a marca e os concessionários estão no caminho certo”, diz o comunicado da fabricante.
O hatch 208, hoje montado na Argentina e que foi lançado no ano passado, é celebrado como um sucesso crescente de vendas por conta da “proposta de valor única no segmento em que atua com atributos de design e tecnologia bastante diferenciados e vem crescendo em vendas desde seu lançamento em setembro de 2020”, explicou Felipe Daemon, chefe da marca Peugeot na América do Sul.
A comemoração, no entanto, é completamente fora de tom. O 208, a despeito de ser um veículo bastante atual, continua sendo um figurante no segmento de hatches compactos, mesmo se considerarmos apenas os veículos mais equipados como o Polo e o Yaris. Enquanto no mês passado o Peugeot emplacou 475 unidades no varejo, o Volks teve 1.819 carros vendidos e o Toyota, 1.924 unidades.
A opção por citar apenas as vendas à pessoa física tem uma explicação. É nela que se vislumbra com mais clareza se um modelo possui reconhecimento de valor do público final a ponto de motivá-lo a ir até uma concessionária.
O que a Stellantis não explica é que não apenas o 208, mas também os SUVs 2008 e Citroën C4 Cactus passaram a adotar a mesma estratégia que faz da Fiat líder do mercado em 2021, as vendas diretas.
A montadora italiana é especialista em negociar lotes de seus veículos diretamente com empresas e buscar formas mais heterodoxas de despejar sua produção no mercado. Trata-se, como se sabe, de um negócio arriscado já que esse tipo de prática reduz o ticket médio de seus produtos e com isso causa um efeito de desvalorização no mercado de usados.
Um sintoma do efeito nocivo desse ‘atalho’ é simbolizado pelo fracasso da Ford em produzir veículos no Brasil. A marca americana perdeu muito dinheiro ao tentar encontrar compradores para seus carros nacionais e o reflexo vimos no começo do ano, com o abandono das suas fábricas no país.
É claro que a Ford não gozava de uma gestão eficiente no Brasil há tempos, mercado que a Fiat conhece como nenhuma outra. No entanto, o fato de que empresas mais robustas e com produtos mais consagrados como a Toyota e a Honda não adotarem essa prática mostra o quão precária ela é.
Números tímidos no varejo
Por isso não surpreende que a Peugeot e a Citroën, cuja trajetória nos últimos anos foi de decadência, tenham passado a apelar para o mercado de vendas diretas para crescer.
Um levantamento feito por AUTOO revela que o C4 Cactus teve 41% das suas vendas em 2020 no varejo. Este ano, até maio, esse percentual foi de apenas 30% - 24% se considerarmos a soma de abril e maio.
O Peugeot 2008 tem presença ainda menor nas vendas ao consumidor final. Se apenas 32% compravam o SUV nas lojas no ano passado, agora essa participação é de 23%.
O hatch 208 ao menos reduziu a dependência do atacado. Agora, de cada cinco carros vendidos, dois são para pessoa física e três para empresas – em 2020 essa relação foi de um para três.
Há que se observar que parte das vendas diretas acaba chegando ao consumidor, porém, não se trata de um caminho natural e saudável. Experiente que é, a Stellantis pode colher frutos com essa estratégia ao vender a imagem que suas marcas fazem sucesso, mas resta saber qual será o preço a pagar no futuro.
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