Nissan e-NV200 faz as entregas do futuro

Van elétrica vem ao Brasil para uma bateria de testes e prova que o conceito é viável

Nissan e-NV200 | Imagem: Nissan

Muita gente ainda não acredita no futuro dos carros elétricos. Dizem que eles são caros, têm alcance limitado e seu consumo de eletricidade vai sobrecarregar as usinas de energia pelo mundo a ponto de não sobrar nada para abastecer nossas casas. Esses temores, no entanto, estão virando mitos conforme a tecnologia avança. Alguns projetos começam até a ganhar simpatia, como os táxis elétricos Nissan Leaf que rodam por São Paulo e no Rio de Janeiro. “Algumas pessoas chamam o táxi só por curiosidade ou fazem corridas curtas para conhecer o carro”, conta Anderson Suzuki, gerente de novos negócios da Nissan do Brasil.

Hoje a maior fabricante de automóveis com motor elétrico no mundo, a Nissan quer provar que esse tipo de veículo é viável e eficiente, tanto para reduzir a poluição como prestar serviços. Ou seja, atuar como um carro normal, mas sem emitir poluentes. Para isso, a marca desta vez trouxe ao Brasil o protótipo da van e-NV200, que trabalhou pesado durante um mês pelas ruas do Rio de Janeiro (RJ) fazendo entregas para a transportadora FedEx.

E, a exemplo dos táxis Leaf, a van com motorização totalmente elétrica não encontrou nenhum empecilho para trabalhar. Muito pelo contrário, descobriram que é mais barato operar com um veículo desse tipo do que com vans com motor a combustão. “Os custos de manutenção de um carro elétrico são cerca de 20% inferiores. Ganhamos com a simplicidade do motor elétrico, que não requer trocas periódicas de óleo, filtros e regulagens de componentes específicos, sem falar que eletricidade é mais barato do que gasolina”, compara Suzuki.

Especial: AUTOO pegou uma carona no táxi elétrico de São Paulo

O e-NV200 que veio ao Brasil faz parte de um programa mundial de testes da Nissan em parceria com a FedEx, que já passou por Japão, Cingapura e Inglaterra, além do Brasil. A próxima parada do protótipo, o mesmo que circulou pelo RJ, será os Estados Unidos. Em todos esses lugares, dados de rodagem do carro são colhidos e analisados, assim como depoimentos dos motoristas. Tais informações servem para aperfeiçoar o veículo, que será fabricado em série a partir do segundo semestre deste ano na Espanha.

O que essa van tem de diferente?

O e-NV200 é uma variação elétrica do NV200, que já existe desde 2009, mas somente com opções de motorização convencional, a gasolina ou diesel. Na conversão para a motorização elétrica, o veículo passou por uma série de modificações, como alívio de peso e otimização do perfil aerodinâmico da carroceria, tudo para ser mais eficiente.

Não há tanque de combustível, mas há baterias e elas são pesadas. Por esse motivo, foram instaladas no assoalho da van, assim não comprometem o centro de gravidade do veículo, que se mantém estável. Como o motor elétrico não esquenta como um bloco a gasolina, não há a necessidade de tanta ventilação no cofre. Essa característica permitiu suprimir a grade frontal do veículo, detalhe que melhora a parte aerodinâmica.

O veículo possui um câmbio, mas ele é bem diferente. Possui somente uma marcha que conduz o carro para frente e a marcha ré. É assim por que o motor funciona de uma forma bem peculiar, gerando praticamente todo seu torque máximo já nos primeiros giros. O propulsor funciona a partir da interação de campos eletromagnéticos que faz girar um rotor - em motores a combustão os pistões empurrados pelas explosões de combustível fazem o virabrequim girar.

O conjunto mecânico do e-NV200 é o mesmo do Leaf, com pequenas diferenças. Gera o equivalente a 109 cavalos de potência e um bom torque de 28,5 kgfm. Os freios contam com sistemas que transformam a energia cinética acumulada nas frenagens e desacelerações da roda em eletricidade para recarregar as baterias. Na van, diferentemente do Leaf, esse recurso pode atuar de forma ainda mais eficiente, aumentando o poder de recuperação. Essa função, porém, limita a performance do veículo. Há também um modo “Eco”, que reduz a potência do motor para poupar energia e consequentemente também deixa a van mais lenta.

Com as baterias totalmente carregadas, a van pode percorrer até 160 km. Já o abastecimento pode ser feito de três formas: por meio da rede elétrica convencional (fonte de 110V), processo que leva 20 horas, utilizando um carregador rápido (220V), que repõe toda a energia em quatro horas ou então em eletro-postos (400V), que recuperam 80% da bateria em cerca de 30 minutos.

Durante o tempo que esteve no Rio de Janeiro, os motoristas do e-NV200 utilizaram a mesma infraestrutura criada para os táxis Leaf, que têm o suporte de carregadores rápidos em concessionárias Nissan e um eletro-posto da Petrobras.

Guiar o e-NV200 é simples até demais. Sem a necessidade de trocar marchas, a condução é fácil. Basta acelerar e frear. E o veículo acelera rápido e também tem a vantagem de ser silenciosa, afinal seu motor não gera explosões. Quando faz algum ruído, o barulho lembra o zunido de um trem, só que ainda mais discreto. Segundo a Nissan, o modelo pode atingir 130 km/h e não tem problemas com clima ou trechos íngremes e pode levar 600 kg no compartimento de cargas.

O e-NV200 vai salvar o mundo?

Um carro elétrico só é 100% sustentável quando a sua eletricidade é gerada por uma fonte renovável, como hidroelétrica ou um gerador eólico. Abastecê-lo com a energia de uma usina termoelétrica não combina com esse tipo de veículo, pois o problema da poluição não é resolvido. Por isso, a introdução desse tipo de veículo exige uma preparação de infra-estrutura, que vai desde a criação de usinas “limpas” e uma rede de postos que torne viável a utilização desse tipo de automóvel em grandes volumes.

Os carros elétricos também são úteis até quando estão parados. Como se fosse uma bateria ambulante, o e-NV200 pode emprestar sua eletricidade a aparelhos eletrônicos, tanto dentro como fora da van. Mas não consome muita energia? Segundo estudo da Usina Itaipu, 70 mil carros elétricos sendo abastecidos ao mesmo tempo consumiriam cerca de 0,3% de toda a eletricidade gerada pela hidroelétrica naquele mesmo momento.

A van elétrica é interessante sob diversos pontos de vista, mas ainda precisa que mais empresas e governos banquem a ideia para torná-la mais acessível. Na estadia do e-NV200 pelo Brasil em nenhum momento ele ficou sem energia e todos os pacotes foram entregues sem atraso, segundo a FedEx.

Van pode chegar ao Brasil, mas com motor a combustão

A apresentação do e-NV200 no Brasil foi apenas uma prévia do que a Nissan pode estar preparando para o segmento comercial. De olho nos órfãos da VW Kombi, que saiu de linha em 2013 após 63 anos de produção, a montadora japonesa poderá lançar a sua van no mercado nacional, mas na versão NV200, que tem opções com motor a gasolina e diesel. Não só isso, o modelo é fabricado no México, país que tem acordo de livre comércio de automóveis com o Brasil, isentando-os de taxas de importação.

Para ter essa isenção, no entanto, o governo brasileiro exige que a montadora tenha uma base no Brasil, com investimentos em produção e geração de empregos. Não por acaso, a Nissan acabou de concluir sua primeira fábrica completa no País, em Resende (RJ), o que a habilita a ter uma cota maior de importação de carros mexicanos. Apesar da marca ainda não confirmar, o NV200 tem chances de chegar ao mercado até 2016.

*Viagem feita a convite da Nissan