Ricardo Meier

Comenta o mercado de vendas de automóveis e tendências sustentáveis

Picape Jeep Gladiator é mais um lançamento que estreia na Argentina antes do Brasil

Caminhonete foi lançada no país vizinho nesta segunda-feira enquanto segue sem previsão por aqui. Argentinos também já contam com o Bronco e logo verão o SUV Taos, da Volks

No primeiro trimestre de 2021, os argentinos adquiriram 110 mil veículos novos, entre automóveis e comerciais leves. Nesse mesmo intervalo de tempo, os brasileiros compraram nada menos que 528 mil unidades com as mesmas características, ou quase 5 vezes que nossos vizinhos.

Só a Fiat vendeu no Brasil um volume muito próximo de todo o mercado automobilístico da Argentina (102,4 mil unidades), mas nada disso tem feito com que vários lançamentos cheguem primeiro em nosso país – ou até mesmo que eles ocorram algum dia.

O caso mais recente é o da Jeep Gladiator, reedição da famosa picape dos EUA. Enquanto a Stellantis introduziu o modelo na Argentina nesta segunda-feira (26) com preços a partir de 93 mil dólares (sim, cotado na moeda americana), o Brasil segue sem definição a respeito do seu potencial lançamento.

Não se trata de um fato isolado. O SUV Bronco Sport, cotado com uma das esperanças de dias melhores para a Ford, já havia sido lançado em pré-venda na Argentina com entregas a partir deste mês. O Brasil, como se soube ontem, verá o modelo em maio.

Outro que estreará um pouco antes na Argentina é o SUV Taos, da Volkswagen, que acaba de entrar em produção. Nesse caso, há o óbvio componente nacional já que o modelo sairá da fábrica de Pacheco e seria insensato priorizar o Brasil, onde o modelo estreará até junho.

Outras picapes como a Ford F-150 e Chevrolet Silverado também estão na mira do mercado argentino, embora tenham atrasado. Já a Alaskan, versão da Nissan Frontier com visual da Renault, tornou-se exclusiva do país já que a marca francesa não parece animada em trazê-la para cá.

VW investiu US$ 650 milhões na Argentina para produção do Taos
VW investiu US$ 650 milhões na Argentina para produção do Taos
Imagem: Divulgação

Jabuticaba automotiva

Mas o que explica o Brasil ficar para trás na estratégia da maior parte das montadoras? São certamente vários fatores, mas que somados demonstram que nosso país tem espantado muitos lançamentos por conta do emaranhado de regras exóticas, burocracia, instabilidade econômica e falta de planejamento de longo prazo, para citar alguns deles, criando a famosa "jabuticaba automotiva".

Embora ainda seja um dos maiores mercados do mundo para veículos novos, o Brasil insiste em manter uma legislação capenga que beneficia modelos por conta do volume interno de cilindros, uma regra anacrônica em tempos em que os automóveis mais eficientes muitas são elétricos puros (e sem cilindros, obviamente).

Ao criar um ambiente desconectado da realidade mundial, nosso país inviabiliza estratégias globais. Basta para isso notar que no Brasil carros compactos e mais simples mundo afora são tratados como modelos de médio porte e com um certo grau de sofisticação.

Por conta de distorções como essas enquanto o americano compra um Toyota RAV4 (a partir de US$ 26 mil ou R$ 143 mil), o brasileiro leva para casa um Corolla Cross. Em que pese a conversão pura e simples não refletir a realidade desses dois mercados é fato que o RAV4 não é carro de luxo nos EUA, ao contrário do que ocorre aqui.

Enquanto não houver mudanças profundas no Brasil, a também complicada Argentina (mesmo com sua inflação galopante e estagnação econômica) seguirá sendo um mercado mais integrado globalmente que o nosso.

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